POR AMOR A VOCÊ, DOU MINHA PRÓPRIA VIDA
Agora vou escrever um pouco da história de uma criança que ainda no útero da mãe tentou de todas as formas salvar a vida de seu irmão.
Segue o depoimento de minha amiga Angelita que mora em São Miguel do Oeste/SC. Quando conheci essa história numa constelação, percebi que o amor de irmãos é maior do que o universo todo. Sempre quis escrever sobre isso, mas só agora pedi sua autorização para contar essa linda história de amor gemelar e triste final.
“Quando descobri a gravidez o médico foi bem claro, me deu as duas notícias, a primeira é que eram gêmeos, a segundo que tinha uma má formação em um dos fetos.”
Segundo o médico, o feto ia ser uma “bolinha", ficaria junto com o outro e não se desenvolveria, isso geralmente é o que acontece com muitas gestações de gêmeos, num gravidez de gêmeos , seguiria normal.
Segundo relato de Angelita na segunda ultrassom quando foi consultar pela manhã o médico começou a sair de uma sala e entrar na outra, fazer várias ligações “comecei a ficar apavorada foi então ele pediu para chamar o meu marido para vir junto conversar comigo.”
Ele explicou que os bebês eram univitelinos e que o feto que não tinha a vida estava crescendo normal.
Falou que eram dois meninos, e que o que não tinha a vida, não tinha desenvolvido o corpo acima dos braços, não tinha coração, nem cabeça ou seja não tinha como sobreviver, mas o irmão vivo estava alimentando-o através do umbigo, e assim o feto estava crescendo.
Como o irmão vivo estava alimentando o irmão sem vida, ele estava ficando muito fraco, então, o médico encaminhou Angelita para Florianópolis no mesmo dia para na manhã seguinte às 7 horas fazer uma consulta.
Angelita conta que foi tudo muito rápido, só deu tempo de arrumar as malas e pegar o outro filho Leonardo que tinha na época 7 anos, seu cunhado os levou de carro para Florianópolis .
Chegando na consulta pela manhã o médico fez as avaliações e disse que Angelita não poderia mais voltar para casa. Ela estava com mais ou menos quatro meses de gestação.
Com Angelita estava tudo bem “eu não sentia nada que acontecia dentro do meu útero” um filho tentava sustentar o outro para tentar garantir a sobrevivência.
Toda terça feira Angelita precisava ir ao hospital para fazer avaliações médicas, passava por uma equipe que cuidava dela, e por outra que cuidava dos bebês, além de outra de Pediatria e Ultrassom.
A partir dessa data ela ficou em Florianópolis sem voltar pra casa até o sétimo mês de gestação, no dia em que eu voltou, era aniversário do meu filho de Leonardo. Ela fez um bolo para ele comemorar o aniversário com os seus amiguinhos que estavam com saudades dele. Naquela mesma noite os irmãos começaram a querer nascer, ela foi correndo para o hospital e foi encaminhada para Chapecó/SC . De Chapecó precisou ir de ambulância direto para Florianópolis para fazer a cesariana.
Em Florianópolis, a equipe estava fazendo de tudo para assegurar a gestação, pois era um caso único no Brasil, apesar de todo o esforço não teve como manter a gravidez, os médicos já vinham fazendo alguns procedimentos como injetar glicose no umbigo dos bebês para fechar a passagem de alimentação para garantir que o menino saudável conseguisse sobreviver, mas infelizmente os procedimentos não foram suficientes e os dois nasceram .
O bebê saudável estava com peso normal, porém, estava muito fraco pois tentou até o final salvar a vida do seu irmão enviando alimentos para ele, desde modo permaneceu ainda dois dias na UTI, mas acabou falecendo.
“A dor da perda foi muito forte por muito tempo chorei muito, a vontade que eu tinha era de ir lá no cemitério e arrancar o bebê de lá”, o outro bebê , que não tinha vida, Angelita doou para a universidade, para ser usado em pesquisas e estudos a fim de ajudar outras mães que poderiam passar pela mesma situação.
Os médicos acabaram fazendo uma publicação numa revista de obstetras e foi apresentado em congressos médicos.
Essa gravidez foi a terceira de Angelita, na primeira ocorreu um aborto espontâneo, logo no início da gestação, na segunda nasceu Leonardo, e a terceira foi a dos gêmeos .
Toda a família sentiu muito pelo acontecido.
Essa história mostra o amor incondicional de irmãos, e da mãe que fez o possível para garantir que a vida de seu filho fosse assegurada.
Para Angelita posso dizer que vejo toda a sua dor pelas três perdas, e que vejo o tão forte ela foi para aceitar esse destino e continuar vivendo e mantendo uma alegria contagiante, dando tanto amor para seu filho Leonardo, e acolhendo, dando um lugar no coração para os que já partiram.