A minha infância foi marcada por medos e dores profundas; lembro-me que quando meu pai chegava em casa alcoolizado um tanto alterado e violento quebrando as coisas e muitas vezes nos ameaçando de morte, minha mãe sempre me pedia para acalmá-lo pois, segundo ela eu era a única que conseguia deixar ele calmo.
E lá ia aquela criança de 9 anos, tão pequenina e frágil, dar o seu amor e toda a sua força para que o ambiente familiar ficasse calmo. Muitas vezes aquela criança tinha de deixar de brincar para pegar a sacolinha com vasilhames de cerveja para buscar cerveja para o seu pai, pois se ele saísse de casa não voltaria tão cedo e se saísse voltaria ainda mais alterado e violento.
Aquela criança cresceu e com ela os emaranhados, os traumas, as inseguranças, as angustias, medos, depressão e muita ansiedade.
Hoje vejo o quando abri mão da minha felicidade para trazer harmonia no relacionamento dos meus pais, pois, a nossa hierarquia sempre estava inversa... eu os cuidava, mas na verdade eu apenas me esforçava mais e mais para receber o amor de graça, carreguei os meus pais para pertencer, pertencer a uma família, a um lar e a alguém que me chamasse de filha.
Carreguei por anos raiva, ressentimento e rancor por meu pai, mas apenas estava carregando esses sentimentos para a minha mãe, para que ela não sofresse sozinha.
Hoje dou um lugar em meu coração a minha amada mamãe e meu amado papai, hoje eu sei a sensação mais elevada de receber o amor de meu pai e mãe.
Papai, eu vejo você!
Mamãe, eu vejo você!
Dedico esse artigo a minha adorável e saudável criança interior, minha doce criança quero que saiba que nunca é tarde para se ter uma infância feliz, nunca é tarde para amar.
Estarei aqui para cuidá-la, amá-la e protegê-la.
Eu vejo você!