Eu Maisa, sou a terceira filha.
Meu primeiro irmão faleceu ainda no ventre de minha mãe no sexto mês de gestação. Depois de menos de dois anos nasceu meu segundo irmão, só depois de dois anos e meio eu vim ao mundo.
Meus pais Eurípedes e Eloiza foram ótimos pais, se casaram aos 24 anos, meu pai havia acabado de perder sua mãezinha. Foram um casal que nunca se separaram, minha mãe sempre ajudou meu pai , inclusive no trabalho. Meu pai sempre foi apaixonado por minha mãe, uma mulher belíssima e de um coração gigante.
O que tornou o relacionamento deles muito pesado, foi por meu pai que quando ficava nervoso, bebia e chegava de madrugada em casa; nunca foi violento , mas nossa vida sempre foi instável emocionalmente, como financeiramente por causa do relação desiquilibrada do meu pai com o álcool.
A vida deles foi um misto de momentos felizes, sonhos, bons filhos versus os momentos de instabilidade causada pelo alcoolismo.
Quando criança, minha mãe foi feliz, amada, filha de um farmacêutico respeitado que ajudava a todos, mas em casa com esposa e filhos era severo, não conseguia demonstrar amor, afeto para com a família. Minha avó era uma mãe maravilhosa, amorosa , aconchegava os filhos. Minha mãe teve uma vida muito mais feliz antes de se casar.
Ela dizia sempre: Melhor eu ter problema com o marido do que com os filhos e dizia que eu e meu irmão éramos excelentes filhos e realmente nunca lhe demos preocupações, crescemos muito rápido.
Meu pai era filho de fazendeiro, fala que até uns 9 anos de idade era feliz, andava livremente a cavalo e nadava nos rios, mas aos 12 anos seu pai faleceu em seus braços tendo um infarto. Meu pai carrega até hoje essa perda, culpa o pai por ter vendido as terras e dado para a igreja, deixando a família sem nada.
Meu pai é o filho caçula, sempre foi bem cuidado pela mãe e pela irmã mais velha que fizeram tudo por ele. Meu pai é um homem muito forte, tenho orgulho dele, tive dois pais: um sério sem beber, que sabia fazer de tudo e outro bobão, inconveniente da qual eu tinha muita vergonha quando bebia.
Se esforçou muito para pagar meus estudos. Infelizmente sua fraqueza ainda é a bebida.
Minha vida foi assim: Tive que crescer rápido, minha paixão pelo meu pai foi acabando a partir dos meus 8 anos quando eu o esperei com um bolo no dia do seu aniversario... E ele não apareceu pois estava bebendo no bar. A partir deste dia fui tendo que me tornar Maior, defendendo minha mãezinha tão amorosa, jamais deixei de amar meu pai, mas para sobreviver àquela dor tive que me tornar forte.
Namorei por 5 anos meu marido e nunca contei para meu pai, eu cresci escutando-o falar quando bebia que seria ele quem escolheria meu marido, passei noites pacientemente escutando aquelas conversas, acalmando minha mãe, fazendo aquelas noites torturantes parecerem mais leves para ela...
É claro que hoje como mãe, sei que eu não poderia ajudar muito, eu tão pequena... querendo parecer grande....só contei que eu ia me casar um ano antes no dia do meu noivado, tudo para evitar que com "minhas escolhas "ele bebesse e ficasse falando na cabeça da minha mãe.
Sempre soube levar o meu pai, diferente do meu irmão que " batia de frente ", entristecendo ainda mais minha mãezinha com discussões, como meu pai agora com 75 anos ainda tem um gênio muito difícil e é muito independente (viúvo há 11 anos ) eu mantenho uma distância saudável entre nós dois.
Gostaria que fosse diferente, mas hoje caiu a ficha que eu aceito o destino dele! Com gratidão aos meus amados pais que me deram a vida, eu posso seguir meu caminho e escolher o meu próprio destino!