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VÍNCULO DE AMOR INTERROMPIDO

VÍNCULO DE AMOR INTERROMPIDO
Claudete Hoffmann Lamour
dez. 18 - 10 min de leitura
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Começo esse texto com a fala de uma senhora de 79 anos, com pouco estudo, mas com muita sabedoria: “Eu amamentava um até engravidar do outro, não tinha horário fixo. Sempre que você ou teus irmãos estavam com fome, eu amamentava”.

Foi isso que ouvi, em conversa com a minha mãe, quando perguntei como tinha sido nossa amamentação. Em dez anos, minha mãe teve cinco filhos, todos nascidos em casa com auxílio de parteira. Todos aconchegados em seu colo, logo ao nasceram. Todos criados, seguindo seu instinto materno, com muito amor.

Coisa mais linda de se ver! Quanta admiração tenho por ela!

Em 1964, minha mãe, tão nova e ao mesmo tempo tão sábia, teve uma experiência incrível antes mesmo de completar 23 anos de idade. Grávida de sua segunda filha, teve um parto natural antes da gravidez ir a término e minha irmã nasceu prematuramente, aos sete meses.

Morando em uma chácara, num pequeno município do interior do Rio Grande do Sul, local com poucos recursos, não pensou duas vezes, logo agiu. Para salvar minha irmã, improvisou uma incubadora com uma coberta de pena de galinha, que serviu como colchão e cobertor, pois sabia que dessa forma, sua filhinha ficaria aquecida

. Nascida em meados de abril, ainda teve meses de muito frio pela frente. Para proteger a filha, minha mãe permaneceu por dois meses com sua pequena dentro do quarto de sua casa humilde. Só se afastava dela, para fazer suas necessidades básicas e higiene pessoal. Cuidou da minha irmãzinha tão frágil, com muita dedicação e amor.

No início, minha irmã não tinha forças para mamar e minha mãe, depois de tirar leite do seu peito, a amamentava com conta-gotas. E assim, sob cuidados intensos e muito amor, minha irmã cresceu saudável, formou uma família e hoje já têm três netinhos. Amo ouvir essa história, que por si só, é carregada de força, determinação e muito amor.

Minha experiência ao me tornar mãe em agosto de 2001, foi um tanto diferente. Quando engravidei de meu filho, desejei ter um parto normal. Me preparei, fiz aulas de yoga, conversei com meu bebê encorajando-o a vir para esse mundo, dizendo a ele que não precisava ter medo, pois eu iria cuidá-lo e protegê-lo.

Apesar disso, meu filho nasceu de cesariana, quando, ao completar 40 semanas de gestação, a médica não pôde mais esperar uma resposta do meu corpo.

Hoje acredito que talvez um medo inconsciente se apoderava de mim e por isso não havia dilatação. Ao nascer, meu filho tinha 53 cm e quase quatro quilos. A médica disse, que eu, tão miudinha, não daria conta de colocá-lo no mundo de forma natural.

Me senti frustrada, mas ao mesmo tempo, isso serviu de consolo, pelo meu “fracasso”. Logo que nasceu, a médica me mostrou rapidamente meu filho e ele já foi levado pelo pediatra para a realização da limpeza, que foi acompanhada pelo meu marido.

Não tive a mesma alegria de minha mãe ao parir seus cinco filhos. Não tive meu filho em meus braços logo que nasceu pois logo foi levado de mim... Na maternidade onde eu estava, não permitiam ficar com o bebê no quarto e meu pequeno foi levado para um berçário junto com outros recém-nascidos, que assim como ele, foram separados de suas mães.

Só o traziam para o quarto para mamar a cada duas horas, deixavam um pouco comigo e o levavam de volta. Me lembro das vezes que fui ao berçário admirá-lo pelo vidro, queria saber se estava bem, se não estava chorando. Hoje, vejo que o vínculo de amor entre mim e meu bebê, foi interrompido tantas vezes!!

O autor Carlos Gonzáles (2015), aborda questões importantes que provocam o distanciamento físico entre mães e filhos, apontando alguns tabus presentes em nossa sociedade relacionados a amamentação, ao sono e ao choro.

Sobre a amamentação, o senso comum diz que ela não deve ocorrer até idade tardia, que o leite sustenta somente até os seis meses de idade, que é proibido amamentar em qualquer lugar ou a qualquer hora, mas somente a cada duas ou três horas conforme orientação dos pediatras.

Em relação ao choro, o que dizem é que se pegarmos a criança ao colo toda vez que chorar, vai ficar manhosa e em relação ao sono, que não faz bem adormecer a criança ao colo, embalando-a, mamando, cantando ou ainda, dormir com ela.

Esses apontamentos que figuram como proibidos aos pais, porque ao fazê-lo, as crianças ficariam mimadas ou mal acostumadas, diminuem o contato físico entre mãe e filho.

Porém, ao contrário, as atividades que promovem a falta desse contato físico, são estimuladas, mesmo que os pais não se deem conta disso: quando os filhos são colocados precocemente em berçários, são transportadas em carrinhos ao invés do colo ou ainda são deixados aos cuidados de terceiros e de preferência, que não sejam os avós, porque estes iriam deseducá-los, fazendo todas as suas vontades.

Para o autor, as crianças deveriam ser tratadas com o mesmo respeito que os adultos são tratados. As mães, deveriam seguir o seu instinto materno ao educar seus pequenos, sem medos, sem culpas e sem insegurança. Acredito que o autor está coberto de razão: como podemos pensar que as mães que atendem as necessidades de seus filhos, podem prejudicá-los? Como podemos fazer mal ao segurar nosso bebê ao colo quando ele chora, ou quando ele não quer ser deixado em sua caminha porque no colo da mãe, sente-se mais seguro?

O que mais me impactou ao ler sobre esse assunto, foi a colocação do autor, quando diz que os adultos sabem que vão voltar buscar os filhos, quer seja quando os deixam no bercinho em seu próprio quarto decorado com tanto amor, na casa da vovó, com a babá ou ainda no berçário. Mas os bebês não sabem disso, eles sentem medo de serem abandonados.

Por isso, o choro dos bebês, se justifica em todas essas situações. Fiquei imaginando o que meu filho sentiu, ao ser separado de mim logo ao nascer e nos dois primeiros dias de sua vida, enquanto estávamos na maternidade.

Como deve ter sido difícil para ele e todos os outros bebês que ocupavam os bercinhos ao seu redor... Não me dei conta, mas permiti que o vínculo de amor entre mim e meu filho por tantas vezes fosse interrompido. Um outro processo dolorido para mim, foi o desmame que se fez necessário, quando meu filho tinha 14 meses.

O médico pediatra, desde quando meu filho tinha oito meses de idade, me aconselhava a desmamá-lo do peito, já que em sua opinião, não fazia mais diferença ele mamar ou não e eu estava muito fraca. Mas o “doutor” não sabia o quanto era bom amamentar meu filho. Eu aguardava ansiosa aqueles momentos de troca de olhares e carícias. Como era mágico!!

Ao olhar a história dos meus ancestrais, agora também percebo quantas vezes o amor foi interrompido entre mães e filhos, entre filhos e pais. Em meu sistema familiar, muitas histórias de orfandade, de mães que partiram por complicações pós parto, de pais que faleceram precocemente, deixando os filhos pequenos.

Quantas crianças sentiram o medo do abandono, deixaram de ter o peito da mãe, os beijos de boa noite, as bênçãos antes de ir pra escola, a comida preparada com tanto amor, as palavras de compreensão a cada “arte” feita, a proteção das broncas mais sérias dada pelo pai, os remendos nas roupas usadas nos afazeres diários, as orações ensinadas aos pés da cama, as histórias de Jesus menino contadas como só elas sabem fazer...

Como as mães fizeram falta, quanto vazio ficou.

Dos papais, para muitas crianças faltou a mão forte mostrando as lutas da vida, o amolar da faca ou da foice, o cortar o pasto para a criação, o abrir a cova para plantação do milho, o jeito certo de fazer o roçado, o andar a cavalo, a condução da charrete, o jogar baralho, o gosto pelo futebol.

Enfim, quantos crianças em meu sistema familiar cresceram sem a presença do pai ou da mãe.  Agora que conheço mais minha história, consigo ver a dor sentida pelos meus ancestrais. Mas também posso dizer, que agora eu sei e dou um lugar no meu coração, acolhendo com carinho a cada um com o seu destino.

Quanto a mim, o que posso fazer é incentivar as mães a ficarem o máximo de tempo com seus bebês, a amamentar sempre que eles sentirem fome, a paparicar tanto quanto for possível cada filho, a seguir o que seu coração diz, o instinto da maternidade.

A vida passa voando, quando nos damos conta, nossos filhos crescem e se tornam independentes, mas quanto mais amados forem, mais felizes serão!

 

Referência Bibliográfica:

GONZÁLES, Carlos. Bésame mucho: Como criar seu filho com amor. Editora ‏ TIMO; 1ª edição (1 janeiro 2015).

#mod02#vinculodeamor interrompido/#maternidade.

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