Na tenra fase de quatro anos de idade fomos pegas inesperadamente por uma viagem ao Rio de Janeiro, então capital do Estado do Rio. Morávamos no interior, noroeste desse mesmo estado, na divisa com o sul do Espírito Santo. Era a região da ponte sobre o rio Itabapoana, que nasce na serra do Caparaó em Minas Gerais, no pico da Bandeira.
A cidade era pequena, todos se conheciam, eram parentes e amigos. Minha avó dividia o tempo na casa de cada um dos seus dez filhos com a minha mãe, por ter três crianças pequenas quase gêmeas. Eu, por ser a caçula, estava sempre no colo e era muito apegada a ela.
Chegou o momento da vovó visitar a minha tia, mulher dinâmica e altruísta, na cidade do Rio de Janeiro. A vó, Laudicéia Moreira Pimentel, veio a falecer de um mal súbito, o que nos fez ir as pressas para a capital. Lá chegando, encontramos todos os parentes, amigos e vizinhos velando o corpo, em oração e cânticos religiosos.
Eu era criança, logo não podia ficar no velório, mas eu chorava...
Até que uma tia resolveu me pegar no colo para que eu a visse pela última vez. Fiquei surpresa pela imagem, fiz algumas perguntas e logo parei de chorar. Esta cena me causou um grande emaranhamento e por muito tempo fiquei a pensar naquela imagem: na casa cheia e nos cânticos.
Hoje, olhando para os meus antepassados e para aquela situação, posso dizer sim a cada um. Concordo e aceito com gratidão. São lembranças de vínculo interrompido que vivi quando pequena.