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VISITANDO LEMBRANÇAS DA RELAÇÃO CONJUGAL DOS MEUS PAIS

VISITANDO LEMBRANÇAS DA RELAÇÃO CONJUGAL DOS MEUS PAIS
Mariana A. C. Pinheiro
out. 26 - 10 min de leitura
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Escrever sobre a vida conjugal que pude observar entre meus pais é um tanto interessante, porque, manter a neutralidade necessária diante dos pensamentos e lembranças é um desafio que irei me esforçar para superar.

Eles moram juntos na mesma casa até hoje. Contam com mais de quatro décadas de convivência. Deste relacionamento nasceram Carlos Henrique e eu, Mariana.

Através de nós, os filhos, chegaram quatro netos. Duas meninas filhas, do meu irmão e dois meninos, filhos meus.

As imagens que  chegam quando penso nesse tema em relação aos meus pais são muitas.

Ele, é um militar aposentado, que deixou de ter um vínculo profissional muito cedo, aos 45 anos se aposentou por ter trabalhado desde a infância praticamente.

Na sua infância foi o filho que apresentou muitos problemas de saúde e os familiares receavam que não fosse “vingar”. 

Ele é o quarto de uma família com seis irmãos. Houveram os não nascidos que minha avó não sabia especificar quantos foram, mas que até a morte ela sentia tristeza e dor por esses filhos não nascidos. Atualmente 3, além dele, estão vivos. Duas tias já falecidas na idade adulta, vitimadas pelo alcoolismo.

Tem também uma tia criança que faleceu antes de completar 4 anos e depois desse falecimento seu pai, meu avô paterno, perdeu o gosto por trabalhar como enfermeiro e deixou de exercer essa profissão e trabalhou até o final da vida como administrador de presídio, pois era também policial militar.

Meu pai conta do cuidado que minha avó tinha em fazer pijamas para todos com tecido de saco de farinha. Fala que trabalhou quando criança, vendendo alimentos em jogos de futebol, engraxando sapatos. Depois quando ficou um pouco maior o meu avô disse que ele procurasse emprego e saísse de casa, afinal já era um homem.

E então ele foi acolhido pelos avós paternos e morou com eles enquanto trabalhava como taxista. Serviu o quartel, dando grande alegria para o seu avô que também era militar e havia participado da guerra. Após o quartel, prestou concurso, seguiu na polícia militar, onde trabalhou até alcançar a aposentadoria.

Sua vida emocional afetiva era muito agitada nessa época e ele teve muitas namoradas e noivas. 

Morava com uma senhora viúva quando conheceu minha mãe, isso é o que eles contam.

Minha mãe era  filhinha do papai dela. Caçula de uma família com três filhos: uma irmã mais velha que aos catorze anos casou-se e foi morar com o esposo e o irmão do meio que estudou medicina e desde cedo foi morar em outra cidade por conta dos estudos. E assim ela ficou em casa recebendo muito amor.

Ela conseguia se comunicar muito bem com o pai dela, seu laço afetivo maior era com ele. Talvez por isso escolheu a mesma profissão que o pai dela. Meu avô, pessoa estudada, era ministro e administrador do município. Formado em contabilidade trabalhava para empresas e administração pública. Muito próspero e reconhecido pelo seu trabalho.

Minha mãe prestou concurso e tornou-se auditora de um órgão público federal e  assim se aposentou experimentando muitos cargos de chefia recebeu muito reconhecimento pelo desenvolvimento do seu trabalho. Sua mãe era dona de casa, dedicada ao esposo. De personalidade forte, um pouco brava, ela se destacava pelas delícias que fazia quer fossem receitas doces ou salgadas.

Muito desenvolvida para seu tempo, minha avó aprendeu a dirigir em meados de 1980 porque precisava levar o esposo aos consultórios médicos, afinal a diabetes e início da cegueira não permitiam mais que ele fosse. Ela o levava diariamente para fazer os curativos após a amputação de seus dedos do pé. E nesse período ele brigava muito com ela enquanto ficava sem conseguir se movimentar até a recuperação demorada. E ela o servia e cuidava dele mesmo aos prantos diante dessa forma de ser tratada.

O casamento dos meus pais aconteceu com uma festa grandiosa e os dois transpareciam muita alegria registrado em fotos em álbuns e como eles relatam com outras palavras, nos dois sistemas havia uma não aceitação. 

O pai dela não aceitava que o escolhido fosse uma pessoa com pouco estudo e poucas condições financeiras. A mãe dele dizia que era filha de ricos e preferia a noiva anterior.

E nesse contexto eles disseram sim um ao outro.

Juntos venceram crenças e desenvolveram uma forma de viver do jeitinho deles. 

Os dois filhos chegaram, eles redobraram a dedicação profissional para proporcionar conforto e o melhor que pudessem prover.

Eles cultivaram um hábito que trazia uma liberdade na rotina.

A história deles iniciou na capital do Rio Grande do Sul. E como rotina contato com a natureza eles gostavam muito de acampar.  Então, inicialmente passavam as férias em camping em praias de Santa Catarina. Depois a vontade aumentou e adquiriram um trailer e deixavam num camping chamado Parque Osório, localizado no município de Osório. Que ficava distante cerca de 100km de Porto Alegre. 

E todos os finais de semana, até mesmo no inverno durante alguns anos eles saíam na sexta-feira a tarde para o camping e voltavam no domingo a noite pra casa.

Essa é uma parte das lembranças em que lembro deles muito parceiros, companheiros mesmo.

E semearam em nossas vidas, seus filhos, essa paixão por viajar e acampar também.

Chegou um momento em que decidiram mudar para o nordeste e a vida favoreceu, oportunizando transferência de trabalho para ela e a aposentadoria dele.

Mudaram-se para Maceió em Alagoas, realizando um sonho de morar em frente ao mar. Foi ai que a relação conjugal e de convivência mudou. Ele em casa por motivo da aposentadoria, sempre muito ocioso,  ela trabalhando e amando viver perto do mar.

Ele tornou-se tão insatisfeito e começou a ter relacionamentos extraconjugais e desenvolver o hábito devastador do alcoolismo e ficou agressivo.

Ele só voltava a ser um pouco mais alegre quando viajava, mas na convivência era uma pessoa muito queixosa e infeliz.

Eles tinham alguns amigos e enquanto estavam com outras pessoas pareciam ser felizes, pelo menos para o externo, porém, a convivência em casa não era muito harmoniosa.

Ela buscou através da religião uma fuga para buscar explicações ou forças, não sei, para permanecer e muitas e muitas vezes dizia não se separar pelos filhos.

Eu sinto muito que ela tenha se permitido viver tantos anos assim, infeliz.

Os filhos cresceram e hoje somos adultos cada um produzindo e trabalhando, casados com seus filhos e cada um vivendo em uma cidade diferente. E os dois permanecem em Maceió.

Eles estiveram algumas vezes separados, e nesses momentos eram quando os víamos mais alegres e felizes, interessante isso, né?

Por causa de uma dessas separações ele decidiu deixar de consumir álcool.

E por escolha decidiram manter o casamento, ou melhor, decidiram morar na mesma casa.

Hoje a convivência deles é de duas pessoas que se conhecem há muito tempo e que preferem dividir o espaço de uma casa juntos. Estão próximos, discordam e o diálogo é muito difícil., porém, estão juntos. E dos jeitinho deles se amam. 

Escolheram viver juntos mesmo que às vezes parece que não conseguem se entender.

Em relação a nós, os filhos, são os melhores pais do mundo. Amam conviver com os netos. Juntos somos perfeitamente imperfeitos e tá tudo bem ser assim. 

Sou fruto dessa união, então, em minha vida repeti alguns padrões citados acima.

Na adolescência era muito carente, me apaixonava de graça e durante a aula quando Olinda disse que infelizmente nos apaixonamos pela nossa doença, super fez sentido pra mim. Pude dizer “eu sinto muito” pra forma que agi buscando fora um amor que eu precisava cultivar dentro.

Escolhi uma pessoa que hoje percebo a lealdade nas entrelinhas da escolha. 

Nosso relacionamento pediu "olhar de pertencimento" relacionado a inclusão de raças, nessa  misturinha brasileira, e foi algo marcante em nosso início caminhada juntos.

Estamos casados há 15 anos, completamos agora em Agosto de 2021.

Inicialmente eu esperava dele formas de ser parecidas com as do meu pai. 

Ele tem algumas semelhanças, sem dúvida.

É de personalidade caseira, gosta de cozinhar e para ele os filhos são tesouros. 

Nasceram dois meninos da nossa união.

Nosso relacionamento não tem espaço para agressões em nenhum sentido. Nos amamos e é uma alegria fazer planos juntos.

Adoramos dançar, viajar e organizar nossa casa.

Ele chega mais cedo em casa nos dias que vou jogar vôlei e seguro a onda com as crianças nos dias que ele vai pra academia. 

Algumas vezes combinamos de ir no mesmo horário e vamos juntos, cada um para sua prática esportiva e os meninos ficam na casa dos avós. 

Nossa convivência é harmoniosa (logicamente não é perfeita!) e alimentamos uma amizade que extravasa na convivência com nossos filhos.

Em nossa vida conversamos sobre como era em nossas casas, como as relações se davam.

Percebo semelhanças e diferenças entre as relações conjugais.

Estou em processo de perceber e me esforçarei para curar o que for possível.

Porque para mim o casamento é algo bacana, uma escolha diária para permanecer seguindo juntos. 

Desde que a gente não abandone as coisas que amamos por causa do casamento, porque nesse momento torna-se um fardo, algo pesado.

E pode ser de outra forma.

Acredito que manter as alegrias individuais e estimular o que o outro gosta de fazer.

E não precisa ser junto.

É maravilhoso sentir-se feliz e o outro também ser feliz fazendo o que gosta.

Porque nesse momento a gente se soma e a vida transborda de amor, alegria, união e companheirismo.

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