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VOCÊS DOIS E EU SOMOS “UM NÓS” CHEIO DE NÓS

VOCÊS DOIS E EU SOMOS “UM NÓS” CHEIO DE NÓS
Neiva Maria de Mattos
mar. 24 - 6 min de leitura
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Ele casou-se bastante jovem, segundo ouvi algumas histórias, ele teria ido para o quartel depois de casado. Mas também ouvi dizer que por questões políticas e financeiras, os pais dele teriam feito o seu registro de nascimento diminuindo quatro anos.

Nesse caso, talvez não fosse tão jovem assim. Durante os anos obrigatórios no quartel, ele teria sido o cozinheiro, e gostava disso. Falava sobre o assunto com alegria e até um certo orgulho. Algumas vezes eu o vi cozinhar em casa, tenho uma vaga lembrança relacionada a cabeça de porco, descascando mandioca e também lavando a louça.

O relacionamento conjugal tinha altos e baixos, havia dores e amores. Penso que eles se amavam, e algumas brigas eram motivada por ciúmes outras por questões familiares. Parece que o casamento deles não era aprovado pelas famílias.

Muitas vezes eu o ouvi dizer que teria saído de casa aos doze anos de idade, pois como não gostava de estudar, o pai dele decidiu que quem não estudasse deveria trabalhar e ele então escolheu o mundo. Mas eu nunca soube o que significava sair de casa, para onde foi, ou o que fez nesse espaço de tempo. Não sei absolutamente nada da sua infância.

Ela também casou-se na flor da idade, era professora primária. E com ela o processo da idade foi ao contrário, aumentaram-lhe quatro anos no registro de nascimento, para que pudesse votar e ajudar a eleger os apoiados pelo pai, no caso meu avô, que parecida ter grande influência política no lugarejo em que vivam. E com essa confusão, nunca entendi quem era mais novo ou mais velho entre eles.

Mas sei que a mãe dele, não aceitava muito esse casamento por conta de raça, cor e também essa questão da idade. Contaram-me também que ela ficou órfã de mãe quando adolescente, e que teria sofrido muito nas mãos da madrasta, e depois quando foi morar com um dos irmãos que já era casado, a vida não teria sido um paraíso, mas lembro-me que ela e as cunhadas se davam bastante bem. Conheci três delas, que foram, para mim, tias muito queridas.

No meio desses entrelaçamentos, depois de João Flávio, Neuza Maria e Nilton Luiz, veio Neiva Maria, essa que agora escreve. Mas antes eles tiveram uma que foi morar no céu antes mesmo de nascer e uma que ele teria tido antes do casamento. Depois de mim ainda vieram Clóvis Nilson e Jorge Wanderlei.

Eu imagino que ela tenha tido infância mais feliz que ele, pois ela falava mais sobre esse tempo. Falava de amigas da escola, dos irmãos, da casa familiar. Ele se falava eu não me recordo.

O que eu sei é que ele foi embora quando eu tinha 16 anos. Aquela separação que ninguém nunca compreendeu, ele simplesmente foi e não voltou. Anos depois, soubemos que ele tinha voltado para Cuiabá, de onde tinham vindo antes do meu nascimento.

Ela que não era de deixar nada mal resolvido, foi até lá, brigou, colocou pra fora toda a mágoa que guardou durante todos aqueles anos que viveu preocupada sem saber o que teria acontecido com ele. Depois disso houve até uma tentativa de reconciliação mas por fim veio o divórcio.

Ele, Altair Pedro de Mattos, ela Maria Pereira de Souza Mattos, ambos de famílias cuiabanas, descendentes de portugueses, negros e indígenas são meus genitores, que apesar de toda as limitações conseguiram ser meus pais.

Hoje, depois dos estudos das constelações sistêmicas, eu posso compreender que cada um tinha o seu corpo de dor muito presente e, com certa semelhança, havia memórias de orfandade, vínculo de amor interrompido, lealdade a algum antepassado com o vicio do alcoolismo nos dois sistemas. Mesmo assim, foram batalhadores, permaneceram juntos tanto quanto puderam, criaram seis filhos, pois quando se separaram o caçula já tinha por volta de uns 13 anos de idade. Os mais velhos já estavam casados e meus pais já tinham netos.

Do jeito deles, do jeito que deram conta, percebo que eles se amavam, pois nenhum dos dois nunca se conformou com a separação. Lembro-me de muitos momentos alegres, ambos gostavam de música, dançavam, festejavam, reuniam parentes e amigos em casa, saiam sempre juntos para ir à feira fazer compras, visitar alguém.

Mamãe contava que, em tempos de eleições, eles votavam em urnas diferentes, mas sempre ele a acompanhava e a esperava cumprir o seu dever cívico e depois eles iam juntos para o local onde ele faria o mesmo e ela o esperava, de forma que iam e voltavam juntos. E ela falava com orgulho: “estando junto com meu marido eu entro e saio em qualquer lugar”.

Os saberes sistêmicos ajudam-me a compreender que eles vivem em mim e que essa minha paixão pelo conhecimento, pelo saber, pelo aprender e ensinar, é muito forte porque veio não só de mamãe, como também do avô paterno que foi educador a vida inteira. Quando mais jovem era ciumenta como mamãe e ainda hoje percebo que como papai vou deixando algumas coisas para depois, para a última hora, e faço alguns arranjos provisórios que acabam sendo para sempre.

Mas herdei o que havia de melhor nos dois, a generosidade, o importa-se com o outro, a disposição para o trabalho e a capacidade de amar incondicionalmente, que aprendi com a Mestra da Escola Real que isso se chama “amor de graça”.

Querido papai, querida mamãe, agora eu vejo,

Querido papai, querida mamãe, agora eu sei.

Querido papai, querida mamãe eu sinto muito.

Papai e mamãe eu honro vocês com a vida que tenho levado adiante e sou muito, muito grata a vocês pela vida e por todo “amor de graça” que recebi de vocês.

Ah!

... eu acredito em eternidade e na ressurreição, e sei que ainda vamos nos encontrar e vai ser uma alegria tão grande que compensará toda a saudade que sinto agora.

Então... até lá.

Vocês dois e eu somos “um nós” cheio de nós.

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