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EXERCÍCIOS SISTÊMICOS

EXERCÍCIOS SISTÊMICOS
Márcia Regina Valderamos
fev. 22 - 12 min de leitura
040

                                                                                                       AULA MASTER 04/02/21

 

Me imaginei recebendo a mim mesma como cliente:

Terapeuta: “Olá Marcinha. Como é bom te receber aqui. Estava com saudades. Só nos falamos até agora via internet. Muito bom ter você aqui hoje. Sente-se aqui, ao meu lado.

Cliente: Oi. Já vou avisando: Não sou de beijos e abraços, desculpe. Sou “meio cavala” mesmo. Esse negócio de mela-mela resulta sempre em decepção depois. Tenho aflição.

Mas, eu vou sentar do seu lado? Você não vai ficar olhando para mim como as outras psicólogas que consultei antes? Como você vai me ver, saber minhas reações?

Terapeuta: Ah, eu te vejo sempre. De todas as maneiras e ângulos. Como sou uma terapeuta sistêmica vejo você como um todo.

Quer um chazinho de manjericão, uma aguinha aromatizada?

Cliente: Não. Odeio chás de todo o tipo. Ervas me dão agonia. Me dá uma água mesmo. Pura. E gelada, hein?

Terapeuta: Ah, claro, vou pegar para você. Aqui está, querida. Está bem assim? (ela balança afirmativamente a cabeça e engole a água de um gole só. Fico apreensiva e penso: “será que vou dar conta de ajudar essa senhora tão sofrida?”

E eu mesma respondo para mim: “Sim. Você está sensibilizada com ela e com todo seu padecer. Ela parece bem tensa e nervosa. Então, você a recebe em seu coração. Afinal, você já começou a vê-la com seus pais e seus avós atrás de si já quando conversaram para marcar esse encontro”.

Agora estou sentindo, vendo também os meus pais também aqui comigo e, em silêncio nesse momento, percebo que quanto mais eu os vejo aqui conosco, mais ela ia se acalma e eu também).

Retomei a conversa:

Hoje você está com vestes tão floridas. Amo essas blusas com aplicações de crochê, bordados. Você sabe fazer? Foi você quem fez?

Cliente: Não. Infelizmente. Não tenho dotes manuais. Nem sei porque coloquei essa blusa. Nem gosto muito. Ela é quente. Estou com calor. Essa calça parece de palhaça, isso sim. Peguei qualquer coisa para vestir. Agora que você falou é que percebi que estou com roupas coloridas demais e que a blusa tem esse crochê.

Terapeuta: Entendo, amada. Talvez, com tantas tarefas e horários a cumprir, você não tenha tempo para escolher com calma seus trajes, ver e reconhecer que são bonitos. Você me disse que está exausta e assoberbada de responsabilidades cuidando dos seus. Hoje em dia a vida é corrida mesmo.

Cliente: Isso mesmo. Sempre estou correndo. Desde que me conheço por gente. Minha mãe me chamava de lerda. Com ela não podia fazer corpo mole nunca.

Terapeuta: Entendi. Sempre você quer dar conta de suas obrigações.

Cliente: Quero não. TENHO QUE!!!

Por isso não posso perder tempo com crochêzinho, bordadinho, esses mimimis.

Terapeuta: Compreendi. E você tira um cochilo a tarde, descansa um pouquinho?

Cliente: Eu? De jeito nenhum. Não posso. Eu não consigo ficar parada muito tempo. Para dormir é difícil.

Terapeuta: Então, você não é de dar uma relaxada, amolecer um pouquinho, desligar. Tem que ficar atenta a que ou a quem?

Cliente: Sei lá.

Mas, vem cá. Nós vamos ficar aqui nesse trololó? Quero saber o que você vai fazer para que o os que cuido reconheçam meu esforço e entendam o que espero deles, que estou infeliz com eles, mesmo eles sendo tão bons. Vai ver que é por isso que estou brava com eles. Eles são muito bons. Não tenho do que me queixar deles como familiares. Mas, são ingratos. Não me agradecem pela minha entrega. Não me elogiam, não lembram dos meus aniversários. Me deixam falando sozinha quando estou brava, xingando, me queixando dessa vida de...

Terapeuta: Ah, que ventinho gostoso vem da janela. Me encanta a natureza. É só esquentar um pouquinho vem um ventinho para refrescar.  Está ouvindo os pássaros? Eles cantam por cantar. Porque tem que fazer o que é para ser feito; fazem o que nasceram para fazer. Já o vento exerce a sua função. Convivem em harmonia, apesar das diferenças e podem repousar quando já cumpriram sua missão. Amo a natureza.

Terapeuta: Sim, voltando ao modo que você sente que seus familiares agem com você; Vejo que  você está olhando para tudo o que seus amados lhe mostram. Você está vendo tudo o que eles vieram ao mundo para te mostrar. Foi assim desde sempre?

Cliente: Pronto. De novo.

Terapeuta: De novo o que, amada?

Cliente: A culpa é minha por eu não fazer escolhas corretas para a minha vida e não ter paciência.

Terapeuta: Quem mais você conhece ou conheceu que se sentia assim, assoberbada, não reconhecida, não compreendida, injustiçada, exausta, lastimosa, culpada?

Cliente: Nossa. Você me descreveu e também a minha mãe. Nunca nada estava bom para ela, não estava bem feito a não ser que ela fizesse. Ela reclamava tanto, xingava, gritava, brigava o dia inteiro. Eu queria sumir daquela casa!

Terapeuta: Sair de perto, enquanto ela estivesse brava. Como os seus familiares fazem com você hoje em dia?

Cliente: É. Pode ser. Mas, se eu não gostava do que ela me fazia, porque eu repito isso com os meus hoje?

Terapeuta: O que você pensa sobre essa palavra “repetir”? O que isso quer dizer para você?

Cliente: Ah, repetir é fazer a mesma coisa novamente. Fazer igual.

Terapeuta: Isso. E porque repetimos, porque voltamos a fazer igual mesmo o que não nos agrada?

Cliente: Sei lá. Para aprender? Mas, como eu vou aprender algo que minha mãe, que já morreu, tinha que ter aprendido? Ela nem está mais aqui. Eu não preciso aprender o que ela não aprendeu. Isso é lá com ela.

Terapeuta: É que para uma filha, um filho, sempre a felicidade e o bem-estar dos pais está em primeiro lugar. Você é leal a sua mãe, ao seu modo de ser, as suas carências. Toda criança é boa e quer ajudar seus pais. A criança que você foi um dia está dentro de você, no seu modo de sentir, pensar, se afetar com o que acontece no seu dia a dia.

Cliente: (enxugando disfarçadamente uma lágrima e prendendo o choro): Deus me Livre! Nunca mais quero ser criança.

Terapeuta: Ser criança você não vai poder ser mais mesmo. Agora você está vivendo sua fase adulta. Mas, porque você diz isso?

Cliente: Porque era horrível ser criança. Eu era maltratada, rejeitada, apanhava muito. Minha mãe era destemperada. Qualquer coisa era motivo para surra de fio de ferro. Eu não bato nos meus. Só reclamo.

Terapeuta: Mas, as palavras tem força. E as vezes doem mais que chicotadas.

Cliente: Isso é verdade. Mas, o que eu senti lá na minha infância pode estar me afetando agora, depois de velha já?

Terapeuta: Para os sentimentos e emoções não existe o ontem, o amanhã. Tudo sempre vai estar em você aí, no agora, no presente. Fica até confuso as vezes lembrar que com quem você convive hoje e não é sua mãe; você sabe, claro, mas você sente em relação a eles, a mesma revolta que sentia pela falta de validação, de reconhecimento que você sentiu com ela.

Cliente: Nossa. Que horror! Quer dizer que o que eu sofri com o jeito da minha mãe ser comigo estou fazendo com os meus hoje em dia? Ah, não quero isso, não. Mas, o que eu vou fazer para isso parar?

Terapeuta: Através do amor, da tolerância e da compreensão você e os seus podem viver mais em paz, se entender melhor.

Cliente: Como?

Terapeuta: O que você acha que poderia relevar entre essas coisas que mais te desgasta quando cobra deles e não tem reciprocidade?

Cliente: Ah, se eu abrir a guarda....

Terapeuta: O que acontece?

Cliente: Perdem o respeito por mim.

Terapeuta: Respeito para você é o que?

Cliente: Eles têm que saber que eu mando lá em casa. A casa é minha.

Terapeuta: Eles moram na mesma casa que você?

Cliente: Moram. É. Verdade:  a casa é de todos nós.

Terapeuta: Parece que eles nem imaginam que você precisa de cuidados, de atenção, de agradecimento, porque você está sempre alerta e pronta para agir. Não descansa. Não deixa eles fazerem o que precisa ser feito e como sabem, do jeito deles.  Já imaginou se o sol decidisse fazer o que a lua faz, ou se os mares resolvessem virar córregos? Tudo está certo como está. As coisas e as pessoas são como tem que ser. E não concordar com isso é que faz tudo ficar em desordem e desequilibrado.

Cliente: É. Pode ser. Mas, a minha mãe não me ensinou assim.

Terapeuta: Ela não pôde. Você agora pode. Ela e seu pai te deram o suficiente, o mais que suficiente: a sua vida. Tudo o mais você pode conseguir por seus méritos.

Cliente: Você está certa. Mas, como faço lá em casa agora que sei?

Terapeuta: Talvez você possa começar a perceber que, apesar de terem o mesmo sangue, vocês são diferentes no sentir, no agir, no pensar. Como você percebe agora que é entre você e sua mãe. E que tudo bem. Não tem certo ou errado: só é diferente.

Porque então exigir deles a mesma resposta que você talvez desse nas situações em que ocorrem as desavenças? Será que essa sua cobrança é mesmo necessária?

Cliente: Preciso de ajuda.

Terapeuta: Ok. Mas, será que só tem esse jeito de pedir colaboração? Será que não haveria outro modo deles perceberem o que você precisa? O que mudaria para você, efetivamente, se eles fizessem como você quer todas as coisas? Vale a pena ficar assim estressada, exausta por isso?

Cliente: Estou vendo que não. Acabo de ver que a minha mãe era muito insegura, tinha medo de perder o controle, por isso se tornou tão agressiva. O medo faz a gente querer se defender todo tempo.

Terapeuta: Isso mesmo: ir ao encontro dessas reflexões, desses insights é muito curativo. Muito bom. Você realmente trabalhou muito hoje e foi muito dedicada. Você demonstrou que tem grande capacidade de empatia, de compaixão, e que pode utilizá-las para com você e para com os demais. Faz sentido para você? Como você está?

Cliente: Sim. Acho que é por aí. Estou até menos acelerada.

Terapeuta: Muito bom. Nossa sessão de hoje foi muito produtiva e eu gostaria de ter outro encontro com você daqui a uma semana. Pode ser? Esse é o inicio do caminho que você se propôs trilhar aqui comigo. Posso reservar seu horário?

Cliente: Pode.

Terapeuta: Enquanto isso, a qualquer momento que precisar estarei a sua disposição. Entre em contato pelo meio que preferir seja email, telefonema, mensagem escrita ou áudio. Certo?

Cliente: Sim.

Terapeuta: Por favor, leve esse copo onde bebeu sua água e esse papel com essa frase: “É o amor que nos empodera”.  Na semana que vem você o traz o copo de volta e, se quiser, desenhe, pinte, cole, fotografe, essa frase, ok?

Cliente: Ok.

Terapeuta: Olha que por do sol mais lindo! Eu sempre me encanto com o nascer e o por do sol. Como são parecidos, mas não idênticos, não acha?

Cliente: Nunca tinha parado para pensar nisso. Mas, é mesmo lindo.

Terapeuta: Posso te dar um abraço, te dar parabéns?

Cliente: Pode.

Terapeuta: Beijos amada.


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