Belinha era bem pequenininha... cheia das suas fantasias. E um dia ela andando pelo o jardim, fazendo as suas peraltices, viu dois novos coleguinhas da vizinhança passando em frente de sua casa: o Francisco e a Joana.
"- Oi!"
"- Oi... Onde vocês estão indo?"
"- Nós estamos indo para a escola... E você, Belinha?"
"- Ah... eu tô brincando aqui... Eu adoro pegar as borboletas com a mão e vê-las voarem assim..."
"- Você não tá machucando ela, Belinha?"
"- Não tô não..."
"- Ô, Joana... ô Francisco, porque vocês estão indo pra escola com essa bolsinha de arroz?"
"- Como assim bolsinha de arroz?"
"- É... Você está com seu livro, seu lápis, seu apontador... Ô Francisco e Joana, por que vocês tem assim só uma bolsinha?"
"- Ah... é porque meu pai não compra pra nós, Belinha."
"- Como assim?"
"- Ah, eu não sei... Quando a gente vai na escola, a gente vai assim ó: a gente leva no pacote de arroz um caderno pra cada um, um lápis pra cada um e uma borracha e um apontador pros dois."
"- Mas o pai de vocês não pode comprar, Francisco e Joana?"
"- Não! É que meu pai... Ele... É assim o jeito dele, fazer o que?"
"- Você fica triste João? Quis dizer, Joana?"
"- Ai, Belinha... você ia me chamar de João?"
"- Ah, desculpa... É que eu tô aqui pensando no Joãozinho... Falando nisso, olha lá o Joãozinho lá em cima... Olha lá! O Joãozinho e a Maria, eles têm bolsa."
"- É, Belinha... Mas eu e o Francisco, é assim, se nós quisermos estudar."
"- Eu também notei que está frio e vocês estão com shortinho curto, chinelinho de dedo, blusinha bem pequenininha, simplesinha assim... Só um casaquinho de flanela..."
"- Sabe, Belinha... Meu pai, ele é bonzinho... E a minha mãe também... Mas ele fala que tem que guardar dinheiro, que é porque a gente não sabe o que vai acontecer..."
"- Ai, credo! Meu pai não é assim não!"
"- É Belinha? O que é que teu pai é?"
"- Meu pai falou que quando eu for pra escola, ele vai comprar livros, cadernos... Tudo bonitinho... Mas eu tenho que ser bem boazinha... Mas eu não sei não, Francisco e Joana... É que eu faço tantas artes."
"- Ah, você faz, por que a gente é criança, né?"
"- Sim!"
Nisso, passa Joãozinho e Maria:
"- Oi!"
"- Oi!"
"- Oi, Joãozinho! Oi, Maria! Oi, Joana! Oi, Francisco!"
"- Mas por que você está falando assim, Belinha?"
"- Ai, é que de repente eu fiquei imaginando... Vem cá, vem cá! Sabe?! Guarde isso nas suas cabeças: um dia, quando eu crescer, eu vou ficar muito, muito, muito rica!"
"- É, Belinha?"
"- Por que você está falando isso?"
"- É porque eu fiquei olhando pra vocês sem bolsa, sem os caderninhos... e eu pensei assim, que eu vou crescer e vou ser muito rica... E aí eu vou lembrar de você, Joana... E vou lembrar de você, Francisco."
"- Mas por que está falando isso, Belinha?"
"- Porque eu vou ajudar as crianças... Sabe o que é que eu vou ter? Eu vou ter uma Instituição, onde eu vou poder levar todas as coisas que precisam, pra crianças não sofrerem assim... Ah! Mas vocês são felizes, né? E seus pais são tão bonzinhos, né?"
"- Ah! Eles são... Eles são! Eles não brigam com a gente..."
"- Ah, sabe, Belinha?! Você tem religião?"
"- Ah... não tenho! Religião o que é?"
"- É aquele lugar onde a gente vai e reza..."
"- Ah, sim, sim..."
"- Aí meu pai ensina a Bíblia, fala de Deus pra gente..."
"- É..?!"
"- E você, Belinha?"
"- Ah! Meu pai e minha mãe, toda noite coloca eu pra orar..."
"- Orar? Mas na sua religião não ora, Belinha."
"- Ah, mas isso não é assunto de criança, né?"
"- É..! Meu pai ensina a gente orar."
Aí o Joãozinho, a Maria, o Francisco e a Joana ensinaram Belinha a orar... Mas ela falou assim:
"- Ai que lindo! Mas o papai e a mamãe põe eu pra orar uma oração então: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador. Se a ti me confiou na piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe e me ilumine. Amém!"
"- Nooossa, Belinha... Que lindo, Belinha! Nooossa! E o que você pede na hora que vai dormir?"
"- Ah... eu peço sempre pra Deus, que quando eu ficar grande, me deixe com muito, muito, muito dinheiro..."
"- Mas muito dinheiro pra que Belinha?"
"- Porque eu quero ajudar as crianças, eu quero comprar roupas de frio, eu quero comprar alimentos..."
"- Nossa, Belinha... Você é tão novinha e pensa assim?"
"- É que sempre escuto o papai e a mamãe falando que quem ajuda os pobres, empresta à Deus e vai pro céu."
"- Nossa, Belinha... Mas hoje você tá muito adulta, Belinha! Você trocou todas as suas peraltices..."
"- É que veja só Joãozinho, Maria, Francisco e Joana: a gente também tem que parar pra pensar nas coisas sérias que os adultos falam. Eu faço peraltice, eu faço muita arte, mas eu, no meu coração..."
"- E com quem você fala? De onde você aprendeu tudo isso?"
"- Ahhh... O meu amor, né? Vocês sabem quem é o meu amor maior, né?"
"- Ahhh.. seu vovô!
"- Claro! O vovô José. E ele sempre fala que criança boazinha vai pro céu."
"- Vai pro céu como, Belinha?"
"- Ah... um dia a gente cresce e um dia a gente tem filhos, tem tudo... E um dia, do jeito que a gente nasce, também Deus vem pra buscar a gente pra vida eterna."
"- Nooossa, Belinha! Hoje você tá assim falando tanto de Deus..."
"- É que hoje, na nossa casa teve reflexão... Eu vi papai e mamãe falando que eles estavam refletindo sobre a vida... Falando das crianças que tem que ajudar... E meu papai falou que a coisa melhor do mundo, pra quando a gente... Na verdade a palavra é morrer... Quando a gente morrer, tudo o que a gente faz de bom aqui nessa vida, a gente vai pro céu junto com os anjinhos... Por isso que eu rezo toda noite o 'Santo Anjo'. E vocês?"
"- Ahhh... Lá em casa a gente reza o "Pai Nosso".
"- E vocês: João e Maria?"
"- A mesma coisa! E aos domingos, todos os domingos o papai leva nós pra Igreja."
"- Ah, meu pai também!"
"- É, Belinha?"
"- É... Ah, vocês já esqueceram? Então vamos fazer assim... Vamos combinar uma coisa agora: Agora já falamos da nossa vida de criança... Vamos dizer pra Deus que nós somos muitos felizes..."
Então, Belinha chama todos os seus amiguinhos para fazer uma oração e diz:
"- Vamos orar e vamos rezar, né?"
"- Então vamos!"
"- Papai do céu, protege o João e a Maria, que está indo pra escola... E protege a Joana e o Francisco. Não deixe nada de ruim acontecer. Ah, papai do céu... Que eles tirem também boas notas..."
"- Belinha, pensa que eu não sei? Eu ouvi sua mãe falando que você não estuda, que você é preguiçosa?"
"- Não pode não, João! Não pode não, Maria! Não pode não, Joana! Não pode não Francisco! Vocês têm de tirar boas notas... Valorizar o trabalho que o vosso pai têm, pra comprar os seus caderninhos..."
"- Ai pronto, Belinha! Lá vem você com a sua imaginação!"
"- Vamos embora, gente?"
"- Vamos!"
"- Vamos!"
"- Tchau, Belinha!"
"- Tchau, Joãozinho!"
O vovô de Belinha a chama:
"- Já vou, vovô! Tchau, meninos... Tchau... Boa escola!"