Se é para falar de amor, tem uma música que me leva de volta a uma casa com um cômodo só e cozinha, chão batido, sem reboco nem estuque.
Na manhãzinha, um perfume forte, pai saindo do banho pronto para trabalhar, rádio de pilha no ouvindo, tocando baixinho, para ninguém acordar,
mas, eu dormia quando ele dormia e acordava quando ele acordava e ele não sabia. E eu ouvia o que ele ouvia.
Sem saber porque, em meio as cobertas cobrindo a cabeça para os soluços não saírem, eu me punha a chorar.
E via a poeira vermelha molhada com as lágrimas em uma matéria se transformar.
O barro que pisávamos no quintal, nas ruas daquele nosso lugar, estava em mim. Era matéria e estava. Ela era e é maleável, flexível, fácil de moldar, mas, não se desfaz.
Nem que a chuva, fazendo-a lama a leve a liquidificar.
Aparentemente se desfez, mas que nada! Vem o sol e ela chega a quase petrificar, porém, se desfaz em pó e recomeça a poeira vermelha novamente se tornar.
Volta ao começo para ser forte e ressiginificar.
E meu pai ouvia a música que sempre que ouço reúne ele, as Minas Gerais dele e aquele lugar nosso e o tempo que nunca passará no meu coração!
Sim. Agora eu sei.
O que me faz levantar e me deixar moldar e o teu levantar, o teu superar é o teu resistir.
Gratidão pai, poeira vermelha!
POEIRA
Duo Glacial
"Um carro de boi lá vai,
gemendo lá no estradão,
suas grandes rodas fazendo
profundas marcas no chão.
Vai levantando poeira, poeira vermelha,
poeira, poeira do meu sertão.
Olha seu moço a boiada
em busca do ribeirão.
Vai mugindo e vai ruminando,
cabeças em confusão.
Vai levantando poeira, poeira vermelha,
poeira, poeira do meu sertão.
Olha só o boiadeiro
montado em seu alazão,
conduzindo toda a boiada
com seu berrante na mão.
Seu rosto é só poeira, poeira vermelha,
poeira, poeira do meu sertão.
Barulho de trovoada,
coriscos em profusão.
A chuva caindo em cascata,
na terra fofa do chão.
Virando em lama a poeira, poeira vermelha,
poeira, poeira do meu sertão.
Poeira entra em meus olhos,
não fico zangado não,
pois sei que quando eu morrer
meu corpo irá para o chão,
se transformar em poeira, poeira vermelha,
poeira, poeira do meu sertão.
poeira do meu sertão, poeira!
poeira do meu sertão, poeira!"
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