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CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS

CARTA AOS MEUS ANTEPASSADOS
Márcia Regina Valderamos
jul. 30 - 9 min de leitura
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Tatuí, 28 de julho de 2020

Amados antepassados! Tão queridos Todos vocês!

Tenho muito orgulho de ser uma descendente de cada um de vocês! Os senhores e as senhoras são por mim muito amados desde sempre, vocês o sabem, sempre conversamos de alguma forma sobre esse nosso amor! Sempre desejei muito lhes encontrar e lhes dizer desse amor, dessa gratidão que tenho por terem me possibilitado a vida nesse mundo! Nunca poderei expressar em palavras o que sinto, a honra que tenho por cada um de vocês, papai, mamãe, meus avôs e avós, meus antepassados queridos!

Meus amados, desde pequena, sempre senti toda a dor e sofrimento que vocês devem ter passado para chegar ao Brasil! Os que foram nativos daqui também devem ter sofrido muita injustiça, meus Índios amados! Quero lhes dizer, com todo o respeito que tenho orgulho do tanto que vocês batalharam, sofreram e resistiram para me possibilitar estar hoje aqui, tendo essa vida maravilhosa que vocês e Deus me permitem! Desde que me conheço por gente quero informações de cada um de vocês! Nunca consegui muita coisa, mas o que eu sei (ou imagino saber) me faz muito feliz e orgulhosa de pertencer a essa família, de ter em minhas veias o sangue de indígenas, romenos, espanhóis e russos! Mesmo quando eu reclamava, chorava, achando que não deveria ser quem sou, desejando nem ter nascido as vezes, eu sempre me apeguei a vocês para me manter viva! Inconscientemente eu os buscava! Me perdoem por tanta reclamação e choramingo! Eu me sentia infeliz, melancólica, triste, mesmo quando criança. Sofri e ainda sofro com isso. Hoje sei que é depressão e me trato. Vou ficar bem em breve, se Deus quiser e Ele quer, eu sei!

Vocês sabem, fui uma adolescente esquisita. Ninguém entendia tanta falta de gozo pela vida. Eu não os entendia também, pois, na minha opinião, não havia motivos para viver feliz, bem. Hoje eu sei que queria estar com vocês, saber de vocês e sentar para tomar um chocolate quente ouvindo suas histórias na beira de um fogo quentinho! Me perdoem! Sinto muito! Achava que isso era amor! Não entendia que amar a vocês de verdade é me fazer feliz e satisfeita de ser e viver o que sou, pois sou vocês em mim! Vocês me completam e fortalecem! Hoje compreendo que eu me sentia rejeitada, mas eu é quem me excluía por não aceitar, não dizer sim para o nosso sistema tão lindo! Sinto muito mesmo!

Toda minha gratidão, reverência, respeito e honra para todos vocês, amados! Tanto para o que ficaram quanto para com aqueles que tiveram que atravessar oceanos, deixar, com muito pesar, seu local de nascimento, deixar muitas vezes seus familiares, até mesmos cônjuges, filhos e, sabe Deus, o tanto de sofrimento que passaram nesses navios que os trouxeram! Também à aqueles que foram nativos desse interior de Minas Gerais, cidade de Areado, banhado pelo rio Furnas, terra do biscoito, terra linda, onde nasceu meu amado papai! Gente amada do interior de São Paulo, Mocóca, terra da minha mãezinha querida! Terras de gente sofrida, lavradores humildes, indígenas desrespeitados que perderam suas terras, foram violentados, abusados, expulsos, separados dos seus, àqueles que foram mortos, assassinados, esquecidos, abandonados, enganados, ludibriados, excluídos, banidos, torturados! Para todos os senhores e senhoras que, impotentes, viveram o flagelo, passaram e viram os seus passarem fome, sede, frio, ficaram doentes e acabaram perdendo a vida sem ter tido socorro; para os que enlouqueceram e acabaram agindo de maneira assassina, antiética, tresloucada, àqueles que tiveram doenças psíquicas, transtornos de comportamentos, desvios de condutas, ao senhor, meu avô materno Gheorge, russo bravo, chamado de "louco", que quando estava demasiadamente bêbado atirava em todas as garrafas do bar onde estava e que dizem ter matado, violentado e abusado de seus camaradas que trabalhavam para o senhor quando abria estradas pelo estado de São Paulo com seus arados, cavalos, com a minha vózinha Theodora cozinhando para a peãozada, sempre grávida, tendo um filho, uma filha em cada cidade, abortando, vendo filha morrer de doenças sem tratamento, frio e fome, e que, mesmo assim, o senhor meu avó, por suas justas razões, abandonou, sem nada, com filhos pequenos, tirando a dignidade dela na justiça quando pediu o desquite, alegando que ela o traia. Ela só fazia trabalhar, cuidar dos filhos e ir para a igreja, mas também tinha suas justas razões.

Ao senhor meu avô paterno espanhol que se dizia chamar Miguel quando, na verdade, era Guilherme e Miguel era seu irmão gêmeo que nem sei o que houve com ele, que bebia até a pinga que minha vózinha deixava para o santo de tanto que era viciado, e que nos tratava com desprezo, sem nenhum afeto, sempre de forma desrespeitosa e indecente com minha mãe e fazia minha vózinha Ana Rosa Jesuína, minha índia mineira amada que deu à luz ao meu lindo papai, ficar brava e dar com a vassoura nas suas costas, e saia resmungando, xingando a gente!

Hoje eu sei: todos com suas justas razões e que só conheceram esse tipo de relacionamento. Não aprenderam serem afetuosos, amorosos! Era difícil, mas eu amava conviver com tudo isso! Chorava litros e litros e fazia poesia. Digo e repito à todos vocês: A minha alma agradece e pede que eu escreva o quanto vocês me preenchem! Por isso me tornei psicóloga. Queria melhorar as coisas na nossa família; nem tinha consciência do nosso sistema, mas já sentia que tinha algo muito mais forte sobre nós todos!  Se não fossem vocês como foram, eu não teria tentado ajudar pessoas nessa minha longa estrada até agora aqui nesse mundo!

Na medida em que me aprofundo em mim mesma e os encontro em mim, posso ir ampliando, compreendendo e assim ajudar de verdade o próximo quando ele me pedir! Gratidão! Me perdoem pelos julgamentos! Eu não sabia! Eu não enxergava, não ouvia! Só queria reclamar e lamentar! Perdão! Sei agora que cada um teve as suas justas razões! Hoje Eu vejo todos vocês, meus amados! Todos! Os que foram esquecidos, os que não puderam nascer, os que foram excluídos ou preferiram se excluir e também os que morreram: GRATIDÃO!!!

Quero que saibam que tudo foi como tinha que ser! Tudo foi válido e tenho muito orgulho da resistência, da persistência e da bravura com que todos enfrentaram suas preciosas existências! Exatamente por isso sou quem sou e estou começando a me amar por ter descoberto a força de vocês em mim! Por favor, me abençoem e perdoem! Eu sempre senti um vazio muito grande. Descobri nas constelações minha irmã gêmea que não pôde nascer e a minha irmã mais velha que também foi abortada, mas mesmo assim a luta contra pelo preenchimento desse buraco existencial permanece!

Eu e meu irmão mais novo mal nos falamos e, quando nos falamos, sinto que tem uma barreira e sei que é porque carregamos esse padrão familiar de não pertencimento, de não merecimento, de não se entregar demais afetivamente para não correr o risco de perder e sofrer! Estou lutando para quebrar esse ciclo vicioso! Isso não é meu! Vou ainda olhar a qual de vocês estou servindo. Sinto, faço por todos vocês; será? 

Eu  sempre amei muito e sempre desejei ser amada, como acredito que cada um de vocês tenha sentido também. Pelo que sei e sinto, a grande maioria de vocês não teve amor e nem aprendeu a dar, pensei que tinha que agir assim também, mas agora vejo que, para honrá-los e agradecer de verdade a vocês, preciso ser feliz, para que vocês descansem em paz! Eu os libero, meus amados e peço humildemente que me liberem para que eu possa seguir meu caminho, cumprir a missão que me foi designada pelo Criador aqui nessa terra. Eu ainda estou tentando descobrir qual é essa missão realmente, mas prometo a vocês fazer a minha vida valer a pena e passar para frente as muitas coisas boas que vocês me deixaram, assim, recompensá-los como merecem. 

Com suas permissões, deixo o que é de cada um o que é de vocês e sigo só com o que é meu. Peço, com muito respeito, as bençãos de cada um dos senhores e senhoras do meu sistema familiar! Vou seguir com o que tenho de melhor de vocês. Gratidão eterna!

Com profundo respeito e amor,

Márcia Regina Dacob Valderamos 


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