Mãe, venho aqui humildemente te pedir que tome a minha mão e me leve até meu pai.
Nessa dimensão em que vocês dois estão agora, você pode fazer isso com muito amor e com um sentimento de afeto incondicional, sem mais essas disputas que tiveram aqui na terra enquanto convivemos como família.
Você sempre o amou, mas pelas suas justas razões, se achava mais capacitada para cuidar de nós, seus filhos, do que ele.
Ele acreditou nisso pelas suas justas razões e se retirou e tanto ele quanto nós, somos muito agradecidos por tudo o que fez e como fez. Meu pai mesmo estando fisicamente na nossa casa, saiu da vida, não só da nossa.
Tenho a impressão que ele também não viveu.
Digo “também”, mãe, porque vejo que isso acabou acontecendo com todos nós. Você acabou se sobrecarregando, teve depressão e foi infeliz, descontando na gente sua amargura com agressividade e violência.
Sempre percebi que algo estranho acontecia, mas não sabia o que. Achava que você me odiava, que eu não era tua filha.
Agora estou estudando e soube, mãe, tenho visto isso com comprovações práticas, através das Constelações e do Renascimento Sistêmico, que quando a mãe não conduz os filhos ao pai, para que ele mostre para eles o mundo, quando a mãe não permite que os filhos convivam com o pai, quando ela o desrespeita perante os filhos, quando o humilha, o diminui, o afasta da vida dos filhos, fazendo com que ele acredite que não é necessário.
As crianças desenvolvem a orfandade funcional, ou seja, tem o pai fisicamente, mas ele não se sente apto por algum motivo para exercer o papel de guardião, daquele que valida o filho e o leva para a vida, incentivando-o para ser quem é e evoluir, progredir.
Mãe, você pode até argumentar que não precisava dele e de homem nenhum (como você dizia sempre) porque você fazia tudo. Pensei isso também durante muito tempo, mas hoje entendo o porque da minha raiva, da minha revolta para com você.
Você ocupou o lugar que, por direito, é dele dentro da minha alma durante todos esses anos!
Você ficou como a que sabia tudo, a que resolvia tudo, aquela de quem todos eram dependentes, e meu pai ficou como se fosse um irmão meu, ou até mesmo um filho meu, desprezado, excluído, inútil. Nem ele nem ninguém é desnecessário. Ele e todos os seres humanos têm sua importância.
Ninguém é mais que ninguém.
Nem mesmo mais vítima, aquela que tem que se sacrificar por todos, como você nos fez acreditar a seu respeito. Mesmo que meu pai realmente não tivesse a capacidade de ser meu guardião e você tivesse que fazer isso, você não poderia ter maculado a minha inocência, a minha ingenuidade invertendo a ordem das coisas, excluindo meu pai, abalando a minha essência.
Você poderia ter mantido o meu amor incondicional por ele intacto, explicando o quanto ele também era responsável por eu ter minha vida. Afinal, ninguém deixa de ser pai, mesmo que tenha sido só um fornecedor de esperma, o que não foi o caso dele, pois ele foi um homem muito trabalhador e nos mantinha como lhe era possível, só que não conseguia expressar seus sentimentos por não ter sido amado também pelo pai.
Isso você não conseguiu explicar.
Como você também não recebeu amor de pai, não soube lidar com isso, eu entendo agora: só podemos dar o que recebemos. Sempre bati de frente com você e me aproximei muito dele, mas ele temia seu jeito e se mantinha fechado.
Hoje sei que é porque você não autorizou essa proximidade e isso vem acontecendo no nosso sistema há muitas gerações, tanto do seu lado quanto do dele, fazendo com que cresçamos fisicamente, mas não psicologicamente e que nos tornemos infelizes nas relações e incapazes de dar “amor de graça “, nos doarmos.
Não consegui me realizar como mulher, como profissional, não tenho amigos íntimos e nunca consegui o que mais queria: ser mãe! Essas são as consequências dessa disfuncionalidade familiar. Compreendo porque.
Vejo as dores de todos vocês.
Sinto muito pelo que passaram. Mas, hoje não precisa mais. É urgente transformarmos esse ciclo! Muita gente do nosso sistema teve e tem problemas com álcool, com drogas, dependências emocionais, doenças físicas e emocionais, casamentos disfuncionais como o seu.
Eu não quero mais isso! Basta. Preciso viver plenamente minha vida, amar, ser amada e me realizar. Quero ser saudável, feliz, mas, para isso acontecer, é imprescindível a sua permissão para ir até meu amado pai.
Lembre-se mãezinha, não foi só ele que não soube ser pai.
Quem toma o lugar do outro também está disfuncional e não está sendo o adulto ponderado que precisa ser. Hoje que estamos em dimensões diferentes e que vocês dois não vão ser prejudicados e nem sofrer mais, quero que fiquem com o que é de vocês, de sua responsabilidades e me deem o direito de ser livre, ter pai e mãe, ser a pequena diante de vocês, aquela que recebe de ambos e dos nossos antepassados as Bênçãos e a força para viver minha vida honrando todos vocês a quem eu amo muito!
Por favor, mãe, me leve até meu pai e confie que o que é de alçada dele ele fará.
Afinal, sou vocês juntos.
Me sinto abandonada no mundo sem essa integração com meu pai, que tem que ser feita através de você por ser sua essa missão devido a estarmos ligadas desde a minha concepção e vivendo tão simbioticamente desde então.
Transforme, mamãe e papai, esse nó em laço, para que nosso vínculo de amor seja restaurado.