Uma pergunta: Nesse processo de transformação e nessa reverência que os filhos devem prestar aos seus pais há também lugar para uma emoção como o ódio?
Existe isso também? Pois isso tampouco acontece tão depressa assim, não é?
Essas são, na verdade, soluções das quais o senhor fala.
Mas também no processo – no processo emocional – aparecem, frequentemente muita agressividade, raiva, ódio e muitos outros sentimentos diversos que, de vez em quando, são simplesmente necessários.
Eles não precisam ser desativados, mas pelos menos precisam ser vistos.
Bert: Ainda não vi isso. Essas são ideias. São descritas ou divulgadas, sem que eu as tenha visto um dia.
A criança ama os seus pais de uma forma bem profunda.
Pode-se contar totalmente com isso. Mas o que acontece é: quando o acesso da criança à mãe ou ao pai foi impedido bem cedo, por exemplo, quando precisou ficar muito tempo completamente sozinha em um hospital, então a dor é tão grande que em seguida se expressa como agressividade.
Mas isso é somente o outro lado da perda sofrida e somente o outro lado do amor.
O importante seria que essa situação anterior fosse revivida, que o movimento interrompido em direção à mãe ou ao pai fosse levado a termo.
Este é um processo muito doloroso.
Quando é bem sucedido, tudo aquilo que se deu como motivo para o ódio fica totalmente irrelevante. Não tem mais importância nenhuma.
Pergunta: Mas o senhor conhece a experiência de que apenas se pode odiar realmente aquele que também se pode amar?
Creio talvez que não posso odiar alguém tanto como minha própria mulher. E talvez amar tanto quanto a amo.
Bert: Esse ódio é um sentimento infantil. Adultos não odeiam nesse sentido. Odeiam somente quando se sentem como crianças, e, aliás, impotentes como crianças.
Por isso um homem, como homem, não pode odiar a sua mulher. Pode transferir algo de sua infância para ela. Isso é algo totalmente diferente. Mas reduzir isso somente a comportamentos não é possível.
A solução simples entre pais e filhos é que eles ainda podiam ver o que significa receber a vida dos pais, que os filhos reconheçam:
Recebi a vida de vocês. Você são meus pais, e eu os tomo agora como vocês são, como os pais certos para mim.
Então a criança fica em paz consigo mesma.
Pode, então, tomar os pais e as outras coisas que o oferecem.
Temos frequentemente a ideia maluca de que poderíamos ter outros pais ou de que os pais deveriam se diferentes do que são.
Nesse momento, a criança fica totalmente desnorteada. No fundo, fica louca.
Muita reivindicação que é feita aos pais é, na verdade, uma reivindicação maluca que os pais nunca poderão preencher.
Mesmo que tentassem preencher essa reivindicação, o filho não a tomaria, porque essa reivindicação vem de uma outra camada.
Nesse sentido, a criança não quer absolutamente nada dos pais, aí atua uma outra dinâmica totalmente diferente.
O que ainda é importante com relação ao que o senhor disse antes sobre o ódio pelos pais: uma criança que odeia os pais irá castigar-se severamente.
Pois a profundeza da alma nunca permite isso. É uma tal violação da ordem que não é possível.
E é tipicamente ocidental.
Nunca vi, por exemplo, entre os zulus que alguém tenha falado de modo depreciativo sobre seus pais. Isso era impensável
Bert Hellinger
A Fonte Não Precisa Perguntar pelo Caminho página .116