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Pais, puberdade, relação conjugal e a arte de tomar

Pais, puberdade, relação conjugal e a arte de tomar
Débora Carvalho
jan. 23 - 28 min de leitura
010

 

Seminário sobre os “círculos do amor”. Quais são esses círculos?

Primeiro círculo: Os pais


O primeiro círculo do amor começa com o amor recíproco de nossos pais, como um casal. Foi desse amor que nascemos. Eles nos geraram e nos acolheram como seus filhos. Eles nos nutriram, abrigaram e protegeram por muitos anos. Tomar deles amorosamente esse amor é o primeiro círculo do amor. Ele é a condição para todas as outras formas de amor. Como poderá alguém, mais tarde, amar outras pessoas, se não experimentou esse amor? Faz parte desse amor que amemos também os antepassados de nossos pais. Eles também foram crianças e receberam de seus pais e avós o que depois transmitiram a nós. Também eles, através de seus pais e avós, vincularam- se a um destino especial, assim como nós nos vinculamos ao seu destino. A esse destino nós também assentimos com amor. Então olhamos para nossos pais e nossos antepassados e dizemos amorosamente a eles: “Obrigado”. Este é o primeiro círculo do amor.

Meditação sobre o primeiro círculo do amor


Fecho os olhos e volto à minha infância. Contemplo o início de minha vida. O início foi o amor de meus pais, como homem e mulher. Eles foram atraídos um pelo outro por um forte instinto, por algo poderoso que atuou por trás deles. Contemplo essa força que os uniu e me curvo diante dela. Contemplo como meus pais se uniram e como resultei de sua união, com gratidão e amor.

Depois meus pais me aguardaram, com esperança e também com receio, esperando que tudo corresse bem. Minha mãe me deu à luz, com dores. Meus pais se contemplaram e se admiraram: “É essa a nossa criança?" Então disseram: “Sim, você é a nossa criança, e nós somos seus pais”. Eles me deram um nome, deram-me seu sobrenome e disseram por toda parte: “Este é o nosso filho". Desde então pertenço a essa família. Eu tomo minha vida como membro dessa família.

A despeito de todas as dificuldades que ocorreram, sobretudo em minha infância, a vida em si não sofreu dano. Essas dificuldades podem exigir muito de mim. Quando, porém, contemplo tudo o que pesou - por exemplo, ter sido entregue a outras pessoas ou não ter conhecido o meu pai - eu digo sim a isso, da maneira como aconteceu, e com isso recebo uma força especial. Então encaro meus pais e digo: “O essencial eu recebi de vocês. Eu reconheço tudo o mais que vocês fizeram, seja o que for, mesmo que tenha envolvido alguma culpa. Eu reconheço que isso também pertence à minha vida e concordo com isso”.

Sinto, em meu interior, que sou os meus pais, que os conheço por dentro. Posso me imaginar, por exemplo: onde em mim eu sinto a minha, mãe? Onde em mim eu sinto o meu pai? Dos dois, quem está mais em evidência e quem está mais escondido? Permito que ambos fiquem em evidência, encontrem-se e se juntem em mim, como meu pai e minha mãe. Em mim eles permanecerão sempre juntos. Posso alegrar-me com isso. Eu os tenho realmente em mim.

Seja o que for que tenha acontecido em minha infância, digo sim a isso. Afinal, tudo se ajeitou. Isso me fez crescer. Além de meus pais, muitas pessoas me ajudaram. Quando meus pais não estavam disponíveis, de repente havia um professor ou uma tia em seu lugar. Ou então alguém na rua me perguntou: “O que há com você, criança?” Essa pessoa cuidou de mim, levou-me talvez de volta para casa. Eu tomo todas essas pessoas, junto com meus pais, em meu coração e em minha alma. De repente, sinto em mim uma grande plenitude. Quando tomo tudo isso com amor, sinto-me inteiro e em harmonia. Esse amor está em mim e se desenvolve em mim.

O segundo círculo do amor:


Infância e puberdade

O segundo círculo do amor é a infância. Tudo que os pais me deram, os cuidados que tiveram por mim, dia e noite, perguntando-se: “De que a criança está precisando?”, tudo isso eu recebo deles com amor. Pois é incrível quanto de bom os pais dão a seus filhos. Os pais sabem o que isso lhes custou e o que significa para eles. Eu reconheço isso. Tudo o que aconteceu em minha infância eu aceito agora - inclusive que meus pais não tenham visto alguma coisa, que tenham cometido erros ou que algo de insano tenha acontecido. Tudo isso faz parte. Na medida em que me defronto com esse monte de desafios e também com o sofrimento, a dor e a necessidade de me afirmar, na medida em que aceito e assumo isso, eu cresço.

A criança procura evitar, às vezes, tomar e agradecer, tornando-se ela própria uma doadora. Porém, muitas vezes, ela dá algo errado ou dá em excesso: por exemplo, quando pretende assumir por seus pais algo que não lhe compete como criança.

A criança tem, às vezes, dificuldade em receber, porque o que vem dos pais é tão grande que a criança não pode retribuir na mesma medida. Então ela prefere tomar menos, para que não tenha de retribuir tanto.

De onde o senhor tirou esse conhecimento?

Observei isso em centenas de constelações, em muitas variações. Os filhos não podem suportar o desnível que sentem em relação aos seus pais, principalmente quando não sabem que a verdadeira compensação do que receberam dos pais consiste em transmitir isso a outros - especialmente, mais tarde, aos próprios filhos. A sensação de não poderem retribuir é um dos motivos que impelem os filhos a deixar a casa de seus pais.

Muitas vezes, os adolescentes recorrem a recriminações para adquirirem o direito de separar-se dos pais. Esse é um recurso barato para escapar da necessidade de retribuir. Contudo, ele ajuda os filhos a se separarem dos pais. Porém, quando os filhos percebem que é possível compensar, transmitindo a outros o que receberam e que é imperiosa a necessidade de compensar dessa maneira, eles conseguem separar-se dos pais sem necessidade de críticas. Aprendem como lidar com o que receberam e aprendem o que podem fazer com isso. A vantagem dessa atitude é que não precisam negar nada do que receberam dos pais. Podem tomar tudo, porque sabem que o repassarão.

Dessa perspectiva eu ainda não tinha encarado a puberdade. Aí fica imediatamente claro que as críticas e acusações fazem parte do “jogo de compensação” da consciência. Mas a puberdade também é um processo hormonal. O senhor disse que esse recurso é “barato”. O que quer dizer com isso?

A senhora encara o processo da puberdade a partir de nossa cultura, onde é usual que as crianças comecem a criticar seus pais. Existem culturas onde isso absolutamente não ocorre, onde a separação não é comprada com recriminações. Essa é uma atitude diferente. A outra é “barata” no sentido de que, se eu tomo pouco, também preciso dar pouco. Tomando pouco, fazendo recriminações, rejeitando o amor dos pais, viabilizo a separação, mas ela acontece de uma forma que empobrece a todos. É tomando que cresço como filho.

De um lado, isso é esclarecedor. Mas, de outro lado, parece envolver uma exortação moral: “Adolescentes, sejam bem comportados, não critiquem os seus pais. ” E quando o senhor fala em “barato”, isso também soa com uma depreciação, pois existem razões que impedem os adolescentes de conseguir isso.

Tome a palavra “barato” em seu sentido literal: algo que custa pouco. É pouco o que é tomado e é pouco o que fica disponível mais tarde. Quando eu tomo muito, isso me custa muito, porque não posso conservá-lo. Então, também sinto a necessidade de passar adiante, e isso é “caro”, porque custa mais. Aí também existe mais. No filho que se recusa a tomar, pouca coisa existe, mas a senhora tem o direito de sentir-se incomodada com o “barato”.

Sinto isso de uma forma um pouco mais complexa. Não é uma tarefa dos pais evitar que as crianças se esquivem dessa maneira “barata ”? Observei em mim mesma que o natural mutismo dos filhos adolescentes não me preocupa muito. As mães se perguntam, muitas vezes: “O que aconteceu com o meu menininho carinhoso ou a minha menininha carinhosa? Eles receberam algo e agora, de repente, partem vazios. ’’ Aí os pais assumem uma atitude adolescente, fechando a cara para os filhos que não cuidam mais deles, não os ouvem e têm ideias diferentes sobre a ordem. Em outras palavras, a puberdade dos filhos me confronta com minha “criancice”. Se não me aceitam mais sem reservas, interpreto isso como falta de cuidado por mim. Os filhos nos mostram onde é que ainda não somos adultos. A crítica dos filhos aos pais põe o dedo justamente nessa ferida, pois as crianças têm o olhar penetrante. Elas se preocupam com o próprio crescimento e, muitas vezes, os pais não têm condições de mostrar-lhes seus limites - assim, no momento em que reagem infantilmente, eles recusam o “dar” que lhes compete como pais.

Meu filho, por exemplo, passa o dia todo sem falar comigo, só Deus sabe por quê. Às vezes, tomo essa atitude como dirigida a mim, sinto-me desconsiderada - portanto, sentimentos infantis. À noite ele chega e pergunta: “Mamãe, você me faz uma massagem nos pés?” Eu poderia - como uma adolescente — pensar: “É justamente o que faltava, que eu o sirva enquanto ele me trata dessa maneira. ” Mas, com uma atitude mais madura, penso: “Excelente, assim consigo contato com meu filho. Isso é o que posso dar-lhe agora, e o que ele pode receber. ” Os pais também são levados nas águas da adolescência. A “puberdade” não acontece numa troca reciproca?

Eles se separam, os pais e os filhos. Muitos não sabem que existe uma forma de compensar que atravessa gerações. Quando alguém percebe que não precisa retribuir tanto aos pais, mas pode mais tarde repassar isso a outros, fica aliviado em sua alma. Então os filhos podem dizer aos pais: “Vocês podem me dar, eu tomo tudo”.

Somente quando percorri totalmente esse segundo círculo do amor é que estou pronto para uma relação conjugal confiável. Dificuldades e problemas nos relacionamentos ulteriores resultam, em sua maioria, de não terem sido completados os dois primeiros círculos do amor. Então precisamos retomar e resgatar o que faltou.

Meditação sobre o segundo círculo do amor


Fecho os olhos e me recolho. Passo a passo, como se desce os degraus de uma escada, retorno à minha infância. Passo a passo. Talvez eu encontre situações onde sinto uma dor ou fico intranquilo. Espero nesse ponto, até que surja uma imagem do que aconteceu nessa época. Muitos traumas da primeira infância estão associados a situações em que fomos deixados sós ou não conseguimos chegar aonde queríamos ou precisávamos.

Agora imagino essa criança, que sou eu mesmo, e olho para minha mãe. Sinto meu amor por ela e o impulso de aproximar-me dela. Olho em seus olhos e lhe digo simplesmente: “Eu lhe peço!”. Algo se movimenta na fantasia interior, tanto na mãe quanto em mim mesmo. Talvez ela dê um passo em minha direção, e eu ouse dar um passo para perto dela. Entro nessa vivência, até que interiormente chego a meu objetivo e relaxo nos braços de minha mãe. Então olho para ela e digo: “Agradeço!”

Isto e um processo interno, porém não se deve fazer muito de uma só vez. Já na primeira vez algo se solta na alma. No dia seguinte posso repetir o processo. De novo desço as escadas, de volta à infância, e chego talvez a uma situação ainda mais antiga. Experimento, talvez, de novo o movimento em direção à minha mãe.

Depois de alguns dias, repito o processo - até que, por assim dizer, esteja totalmente com minha mãe.

Geralmente as pessoas lamentam tudo o que não fizeram e o que não receberam, quando eram crianças. Chegam a ficar amarguradas. Que consequências tem isso?

Tudo aquilo que deploro eu excluo. Tudo aquilo que recrimino eu excluo. Toda pessoa de quem tenho raiva eu excluo. Toda situação em que me sinto culpado eu excluo. Assim vou me tornando cada vez mais pobre.

O caminho oposto seria o seguinte:

Tudo aquilo que lamento, eu encaro e digo: sim, assim foi, e coloco isso dentro de mim, com todo o desafio que me faz. Eu lhe digo: “Agora vou fazer algo com você. Vou tomar você como meu amigo ou como minha amiga” - seja o que for.

Tudo aquilo que me levou a acusar alguém, eu encaro e digo: “Sim. Olho-me para ver como posso receber de outra forma o que ficou perdido para mim. Vejo que força eu tenho para fazer isso sozinho, sem pedir ajuda a outro. Então tomo essa situação para dentro de mim, e ela se torna uma força. O mesmo vale para culpas pessoais, que são aquilo que mais queremos excluir e rejeitar. Olho para elas e digo: “Sim.” A culpa tem consequências. Eu as aceito e faço algo com elas. Assim, a culpa se torna uma força, e eu também cresço.

Por outras palavras, o movimento básico é sempre o mesmo: em vez de excluir, incluir.

Justamente, e incluir como uma força. Existe, a respeito disso, uma observação muito curiosa. Quando tomo para mim o que rejeitei, o que me causou dor, fez-me sentir culpado ou injustiçado, seja o que for, nem tudo entra em mim. Algo permanece fora. Eu digo sim a tudo, mas o que entra em mim é somente a força. O resto fica simplesmente fora, não me infecciona: pelo contrário, desinfeta-me e purifica. A escória permanece fora, a brasa entra no coração.

O que se opõe ao tomar?

Não suportar o que pesa nos pais; querer ajudá-los, intrometendo-me e colocando-me acima deles. Nesse particular, convém fazer o mesmo exercício. Contemplo os meus pais com o peso de seus destinos, seus enredamentos, suas deficiências, seus vícios, suas doenças. Vejo o que tudo isso significa para eles, em termos de força, quando o assumem. Da mesma forma como fiz comigo, tomando algo para mim, eu vejo: “O que aconteceria se meus pais tomassem para si o que lhes pesa? E o que se passa quando quero fazer isso no lugar deles?”

Assim posso imaginar que meus pais dizem sim ao que lhes pesa. Isso pertence a eles, inclusive seus enredamentos, que encaro de uma certa distância, de uma posição inferior - como uma criança. Deixo que meus pais permaneçam completamente como meus pais. Não preciso assumir por eles nada que lhes pertença exclusivamente. Tudo isso permanece fora de mim, porque pode ficar com eles.

O que ocorre com o “filhinho da mamãe” e com a “filhinha do papai”?


Eles se intrometem entre a mãe e o pai. A solução para eles é simples: a filha deve dizer ao pai: “Para isso sou pequena demais” e o filho deve dizer à mãe: “Para isso sou pequeno demais”. Em seguida, devem imaginar que se retiram. Então o pai e a mãe precisam olhar-se diretamente e talvez se encontrem de uma outra maneira, porque ninguém mais se interpõe entre eles.

Portanto, este também é um exercício que se pode fazer. Quem percebe que é uma filhinha do papai, olha para o seu pai e lhe diz, piscando o olho: “Sou apenas a sua filha. Para outro papel, sou pequena demais”. A mesma coisa faz o filhinho da mamãe com sua mãe. Olha para ela e lhe diz: “Sou apenas o seu filho. Para outro papel, sou pequeno demais”. Curiosamente, isso é um alívio para todos, inclusive para os pais.

Terceiro círculo: Dar e tomar


Então chegamos ao terceiro círculo. Aí vale, em primeiro lugar: dar e tomar. Não dar para receber, simplesmente dar e tomar.

O adulto consegue igualmente dar e tomar.

Por que ele consegue, ao contrário da “criança adulta”?

E mais fácil dar do que tomar, porque dando eu me sinto superior. Quando tomo para mim, reconheço-me dependente, como uma pessoa entre outras.

Existem pessoas que apenas tomam.

Isso depende da maneira de tomar. O verdadeiro tomar não comporta exigência. Quando tomo o que o outro me dá, confesso-me carente.

Na Bíblia se diz que “é mais feliz dar do que receber”. Uma das razões disso é que quem dá sente-se superior e grande.

Então o senhor não toma esse dito como um conselho moral, mas como um insight sobre o que se esconde por trás do ato de dar? Então estamos há muitas gerações num enorme mal-entendido.

Tomar o amor, como uma pessoa entre outras, tem grandeza. Quando posso tomar dessa forma, também posso dar. O dar começa com o correto tomar.

Nas relações adultas é importante que cada pessoa possa, de algum modo, tomar da outra. Essa é a compensação mais importante. Não é preciso que ambas deem na mesma medida, mas que tomem para si na mesma medida. O ato de tomar reciprocamente é o mais difícil. Ele une mais profundamente, pois ambos estão na posição de quem necessita. Isso une.

Poder tomar tem muito a ver com doação, e doação só funciona sem controle. Porém existem pessoas que constantemente doam, porque querem receber alguma coisa. Elas dão para receber. Estão constantemente dando, mas não conseguem realmente tomar.

Elas dão na expectativa de receber e, sobretudo, eles tem pouco respeito pelas outras pessoas, pois se consideram melhores e permanecem numa posição de superioridade.

Existem também os que sempre têm algo a reclamar quando recebem alguma coisa. Os presentes nunca são suficientemente bons. Isso acontece frequentemente entre homens e mulheres.

Isto mostra que tomar é uma arte elevada. Trata-se de tomar, valorizando o que se toma. Essa é a arte.

Portanto, em termos práticos do dia- a- dia, isso significa que devo tomar tudo o que recebo, mesmo quando não corresponde ao que eu imaginava? Creio que se poderia escrever um livro com sátiras sobre essas situações penosas, amargas e decepcionantes em que as pessoas se presenteiam e os presentes não são adequados, porque não são suficientemente bons ou se desejava receber outra coisa. Sinto vergonha em lembrar como recusei, troquei, passei adiante ou devolvi presentes de meu marido.

Tudo tem algum valor. Quando alguém me dá alguma coisa, ele me deseja algo de bom. Eu o tomo assim, porque me é dado por ele. Nesse momento tudo o que ele dá se toma valioso. Aquilo se transforma e, de repente, eu percebo: “Ah, isso também tem para mim algo de belo”. É nisso que consiste o tomar.

Como pessoas adultas, devemos dar sem esperar receber do outro algo que ele não pode dar-nos. Essa atitude nos dá força para nos tornarmos pais ou mães. Nela, o tomar se completa e começa a transmissão, o intercâmbio entre as gerações. Este é o terceiro círculo.

Quando ambos, o homem e a mulher, tomaram totalmente seus pais e se tornaram um casal, eles deixam fluir aquilo que veio de seus pais. Então se dão reciprocamente, a partir dessa plenitude, mas a experiência mostra que isso nem sempre se consegue.

Meditação sobre o terceiro círculo do amor


Coloco-me diante de meu parceiro e olho primeiro para a direita, para os meus pais. Vivencio, mais uma vez, o processo de tomar o amor de meus pais. Meu parceiro está diante de mim. Por sua vez, ele também olha primeiro para a direita, para seus pais, c vivência de novo o processo de tomar o amor de seus pais. Depois de olhar para meus pais e também para meus ancestrais, olho para os pais do parceiro e para os seus ancestrais. Vejo tudo o que eles lhe deram, e como ele se enriqueceu com isso. De repente, algo muda em nossa relação, pois meu parceiro me aparece de uma outra maneira, e o amor de seus pais também se manifesta nele.

Ao mesmo tempo, vejo também o lado difícil que lhe pesou, o que lhe aconteceu. Vejo isso como algo que ele toma para si, como uma força, e o que parecia tão pesado permanece fora. O mesmo faço com o que é pesado para mim. Então nos olhamos de novo nos olhos. Eu lhe digo: sim. E ele me diz: sim. Ambos nos dizemos mutuamente que agora estamos prontos um para o outro.

Segunda meditação sobre o terceiro círculo do amor


Mais tarde o casal recebe uma criança. A mulher recebe a criança do marido, e o marido recebe a criança da mulher. Ambos dizem: “Nossa criança”. Eles se veem nela como partes de um todo maior. Eles são sempre apenas uma parte da criança e se exercitam para ver em tudo também o parceiro, e para aceitá-lo em tudo.

Olho para essa criança, a nossa criança. Atrás dela vejo meu parceiro com tudo o que há de especial na família dele. Vejo tudo o que nela é diferente de minha família e o tomo, como igualmente válido, em meu coração. Nesse momento a criança tem o mesmo valor para ambos e pode unir-se da mesma forma a ambos os pais. Cada parceiro diz ao outro: “Esta é a nossa criança: tem a sua parte, como pai (mãe), e a minha parte como mãe (pai). Assim se enriquece a criança e a relação.

O que acontece quando um casal se separou e tem filhos?

Separações acontecem, via de regra, quando um parceiro se retira para sua família de origem. Ele retoma por não ter tomado alguma coisa ou, talvez, por ter-se intrometido, não deixando com os seus pais o destino que lhes toca.

Muitas separações advêm porque um dos parceiros se decepciona. As expectativas que tenho em relação ao meu parceiro são frequentemente as mesmas que, em criança, eu tinha em relação aos meus pais. Agora espero que o meu parceiro as satisfaça, mas ele não as satisfaz e também não pode satisfazê-las. Então me decepciono com ele e separo-me, por causa disso. Esse é um dos padrões de separação. Nesse particular é útil exercitar-me primeiro em realmente tomar os meus pais. Então, já não preciso esperar isso do meu parceiro. Nossa relação fica mais sóbria.

Há, contudo, mais alguma coisa que pode levar a separações. Existe um crescimento pessoal, um destino pessoal. Talvez um dos parceiros esteja vivendo uma evolução importante para ele, e o outro parceiro sinta que o seu próprio caminho não é o mesmo. Então cada um concorda com o caminho do parceiro e com o seu próprio caminho e ambos se permitem segui-lo. Algumas vezes isso também pode ser um motivo de separação, mas essa é uma separação com amor. Os parceiros podem se dizer reciprocamente: “Eu amo você e amo o que me conduz e o que conduz você”. Esta é uma frase profunda. A separação, quando ocorre, é mais fácil para ambos. Muitas vezes, porém, somente um dos parceiros a diz, e o outro se opõe. Então um diz ao outro: “Meu crescimento pede isso de você”.

De você e dos filhos?

Dos filhos, não. Aos filhos a gente diz: “Ficarei sempre com vocês.” Um crescimento separado dos filhos não pode ser um verdadeiro crescimento. Isso só ocorre em casos muito excepcionais. A gente pode dizer a eles: “Peço que aceitem minha separação de sua mãe - ou de seu pai -, mas ambos estaremos sempre presentes para vocês”. Isso é difícil para os filhos, mas é uma possibilidade de crescimento para todos, se é feito dessa maneira. E todos permanecem unidos.

Quarto e quinto círculos do amor:


Concordar com todos os seres humanos e com o mundo

Os três primeiros círculos têm a ver com a consciência e a necessidade de compensar. O que acontece no quarto círculo com a capacidade de dar e de tomar?

O quarto círculo ultrapassa os limites da consciência. Nele eu concordo com todas as pessoas de minha família como elas são, inclusive os excluídos e os difamados. Aqui se trata da plenitude interna, isto é, todos os que pertencem à minha família ganham um lugar em minha alma, inclusive os que foram rejeitados, desprezados e esquecidos. Sem eles eu me sentia incompleto, no corpo e na alma. Somente quando os incluo em minha alma e em meu amor é que me sinto pleno e inteiro.

O mesmo movimento em que incluo em meu amor o que até agora foi excluído ou temido, eu estendo, em seguida, a todos os outros seres humanos. Este é o quinto círculo do amor.

O quinto círculo do amor se dirige à humanidade, ao mundo, enquanto tal. Aqui se trata de concordar com o mundo como ele é. Isso diz respeito à capacidade de reconciliação entre os povos, por exemplo. Este é o amor universal, que sabe que somos movidos por poderes superiores.

Que imagem do ser humano está por trás desses círculos do amor?

Para mim, todos os seres humanos são bons. Cada um é apenas da maneira como pode ser. Ninguém pode ser diferente do que é, em sua situação. Por isso, trato a todos com o mesmo respeito. Essa atitude, esse modo de proceder é uma realização da própria alma. Ninguém pode dispensar o outro dessa realização. Muitos que buscam ajuda querem tê-la sem realização pessoal, mas quando sentem quanta alegria essa realização lhes proporciona, essa compreensão lhes abre novas possibilidades de se moverem na vida. Isso sempre passa por uma compreensão. A emoção do amor tem pouca compreensão. Quando fico estacionado nessa emoção, pouca coisa acontece, fico amarrado. No quarto e no quinto círculos do amor ultrapasso essa estreiteza e atinjo um nível espiritual.

Bert Hellinger 

Um lugar para os excluídos. Página 37


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