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Quem é você? Prazer, sou professora.

Quem é você? Prazer, sou professora.
Denize Terezinha Teis
out. 13 - 5 min de leitura
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Responder à pergunta “quem é você?” parece relativamente simples quando informamos o nosso nome, a marca mais expressiva de nossa identidade. Entretanto, socialmente, somos mais que isso. O que quero dizer é que sob o nosso nome, há a identidade de filho, pai, mãe, primo, tia, sobrinha..., de estudante, professor, médico, terapeuta... enfim, a identidade é fragmentada e é definida sob a perspectiva de quem somos a partir do outro...

Ocorre que, especificamente, sempre que converso, pela primeira vez, com algum professor, é comum que depois do nome, me informe seu ofício. É como se a pessoa e o ofício fossem duas faces de uma mesma moeda e que ambas precisam ser mencionadas. Aliás, numa rápida visita, ao facebook, na data de hoje, tenho visto vários dos meus colegas manifestarem, em suas fotos de perfil, o seu contentamento com a profissão a partir de frases como “orgulho de ser professor”. Pode até parecer uma contradição para aqueles que sabem que a vida do professor, no Brasil, “não é um mar de rosas”...

Da minha parte devo confessar que, por inúmeras vezes, desejei trocar de profissão. Houve uma noite, no ano de 2010, em que peguei um papel e me pus a listar tudo o que o meu talento me permitia fazer para, definitivamente, mudar de ofício. Foi um momento doloroso, uma verdadeira “noite escura da alma” e creio que tenha se aproximado do sentimento que invade um casal que trava o último diálogo antes do divórcio. Como último recurso, antes de uma decisão salomônica, desafiei-me a responder a uma pergunta: “você é infeliz?”

Foi nesse momento que compreendi que há uma diferença entre sofrer e ser infeliz. Sofrer não é a mesma coisa que ser infeliz. Quem diz que nunca sofreu por nada não percebeu que nasceu ou desconhece que a compaixão somente existe porque temos a capacidade de sofrer: quem nunca sofreu pela morte de um ente querido, pelas perdas de vidas inocentes e por uma decepção? Assim como um médico que não consegue salvar a vida de um paciente, assim como um administrador que vê o esforço de anos indo pelo ralo após a falência da empresa, assim como um bombeiro que chora ao ver o desespero no rosto de quem perde uma casa consumida pelo fogo, também eu, professora, já sofri durante a realização de meu ofício. Já chorei pela desvalorização profissional, já chorei – incontáveis vezes – com e por alunos diante da minha impossibilidade de ajudá-los. A sala de aula, sobretudo da escola pública, nos põe em contato com situações e histórias dolorosas a partir das quais a compaixão é continuamente exercitada...

Naquela noite de 2010 também compreendi que nós, professores, precisamos ser otimistas. Ser pessimista é, absolutamente, muito fácil. Um pessimista não precisa fazer nada. A derrota já é o limite, depois disso não há mais nada a ser feito. O otimista, por outro lado, precisa ter pró-atividade, esperança, ações, planos, metas... o otimista trabalha, dedica-se, tem esperança. A infelicidade pertence ao pessimista. O otimista não é infeliz, apenas sofre quando as coisas não saem como gostaria. Porém, não desiste porque sabe que a sua atuação é importante para que algo mude... daí que de novo ele está lá, “depois da tempestade toda”, revigorado, começando tudo de novo, com esperança e sonhos...

Ontem, uma professora minha, extremamente competente, da área da gramática, relatava sobre a importância de não desistirmos em compartilhar conhecimentos importantes, mesmo quando a turma toda acha inútil. Ela disse, de uma forma muito mais explicativa do que o faço agora, “que o conhecimento não é cartesiano, mas que fica lá, no cérebro e que em algum momento é acionado e passa a fazer sentido para o aluno. E que os alunos não compreendem tudo ao mesmo tempo e que nem todos compreendem e que, talvez, haja quem nunca vá compreender a razão desse conhecimento... e que, talvez, a compreensão ocorra a ‘uma meia dúzia’, mas que o conhecimento é isso mesmo, é de idas e vindas e assim as pessoas vão se constituindo e o conhecimento vai fazendo sentido, mas que todos precisam ser oportunizados...”

Eu concordo com ela, pensar assim é um alívio. É um alívio pensar também que a vida nos dá inúmeros mestres tanto dentre os que carregam a docência como ofício, quanto dentre os que não atuam, profissionalmente, como docentes... já aprendi muito com inúmeros mestres que sequer são professores... Penso que todo contato é uma oportunidade para a aprendizagem. Para finalizar, quero registrar a minha gratidão a todos os professores que se dedicam ao ofício e que ali depositam o seu amor e com quem eu posso caminhar lado a lado nessa jornada. É com vocês que me energizo todos os dias. A vocês, todo o meu respeito!


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