Um fenômeno frequente em conflitos sérios entre parceiros aparece no que Bert Hellinger chamou de “dupla transferência”.
Se uma injustiça cometida entre um homem e uma mulher, numa geração anterior, não teve a devida compensação, esta é transferida para seus descendentes.
Ela atinge então pessoas totalmente inocentes, acrescentando uma nova injustiça à primeira.
Assim, por exemplo, uma mulher “bondosa” e compassiva tolera, por anos a fio, os casos públicos de seu marido que muito a magoam, mas sua filha assume a vingança em nome da mãe.
Entretanto, como também ama e protege o pai, vinga-se em seu marido, molestando-o abertamente com um namoro. A transferência no sujeito significa aqui que ela age em lugar de sua mãe.
E a transferência no objeto significa que a compensação não se dirige à pessoa do pai, mas ao marido.
Embora inocente, este é chamado a pagar por uma injustiça na família de sua mulher.
Ao mesmo tempo a filha torna-se semelhante ao pai em seu comportamento, não agindo melhor do que ele.
Certa mulher estava sempre muito irritada com seu marido e, como ela própria notou, sem razão.
Na constelação, ficou claro que ela representava uma tia que, como primeira filha de mãe solteira, fora totalmente excluída da família por seu avô. Em substituição a essa tia, a mulher assumiu a raiva pela injustiça mas, poupando o avô, dirigiu-a contra o próprio marido. Ao mesmo tempo, e sem consciência do fato, deu à sua filha mais velha o mesmo nome da tia.
A história somente lhe foi revelada por uma conversa telefônica posterior com o próprio pai.
Jakob Robert Schneider