Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

TAREFA DE CONCLUSÃO DO MÓDULO 3

TAREFA DE CONCLUSÃO DO MÓDULO 3
Márcia Regina Valderamos
out. 9 - 13 min de leitura
010

TAREFA DE CONCLUSÃO DO MÓDULO 3

Vou tentar aqui cumprir a tarefa que a amada Mestra nos deu para a conclusão do módulo 3, mas não tenho muitas informações, quase nada, sobre a infância e adolescência de meus pais. Eles não falavam desses assuntos, a não ser, no caso da minha mãe, para contar de como seu pai, meu avô, “era ruim” para minha avó, sua esposa, e para minha mãe e seus irmãos.

Depois conto mais sobre isso.

No caso do meu pai, eu  só vim a saber de sua própria boca de um episódio que lhe marcou muito, quando fui com ele procurar por documentos para que pudesse requerer aposentadoria  por invalidez nos anos 80, pois estava perdendo a visão por retinopatia diabética, consequência de diabetes não tratada por mais de dez anos; juntos, nós passamos pelo bairro onde chegou em São Paulo, aos 14 anos, vindo de Areado, interior de Minas Gerais, sozinho, só com o endereço de um primo, que morava ali, em  São Miguel Paulista, na Capital Paulista; esse primo, que havia lhe prometido arranjar trabalho na empresa onde estava, já era casado na época e tinha filhas.

Meu pai contou que chegou a noite, estava chovendo e bateu à porta da casa do primo que lhe atendeu, mas nem permitiu sua entrada, e meu pai, do lado de fora, na chuva, com uma malinha pequena de viagem, sozinho, com somente 14 anos, sem conhecer nada dessa cidade de São Paulo, pois nunca havia saído de sua cidade natal, ouvia lá de dentro da casa a voz de uma mulher, que devia ser a esposa do primo, que dizia:

“Manda embora! Se você deixar ele entrar, saio eu e suas filhas. Você escolhe”!

E o “primo” mandou meu pai embora. Meu pai foi andando na chuva e chegou numa praça. Ele me mostrou essa praça nesse dia em que meu contou. Ele disse que achou um papelão, debaixo de uma cobertura de um comércio e dormiu ali.

Disse que passou fome, frio, ficou doente e, como não tinha documentos (certidão de nascimento nem sabia que existia por isso não pensou em trazer) ele não conseguia arrumar emprego. Aprendeu a fumar e a beber pinga com as pessoas que, como ele viviam na rua. “Toma Zé. Pinga para esquentar”, diziam e ele, obedecia, com medo de apanhar se não bebesse, tomava muito e passou a ser dependente, como foi o resto da vida.

Me contou com muita vergonha que, certa vez, roubou um relógio de uma loja que ficava perto de onde dormia a noite, para vender e poder comer. Nunca mais viu o primo, não conseguiu arrumar nada fixo para trabalhar e ficou fazendo “bicos” para sobreviver.

Enquanto ele me contava, chorávamos os dois! Eu não perguntei nada, só lhe abracei e beijei.

Estávamos num ônibus e, meu pai já não enxergava e não via, Graças a Deus, pois sofreria mais ainda se visse, mas eu vi que muitos dos passageiros olhavam para nós, curiosos, uns reprovando e outros compadecidos. Ser humano sempre julga! Nunca mais meu pai voltou para Areado ver seus pais, irmãos.

Ele ficou em São Paulo e foi se virando como podia e, por vergonha, pelo que entendi, nem carta escrevia, apesar das saudades que sentia, principalmente da mãe dele.

Meu pai era o mais velho de sete filhos que nasceram e uma não nascida que ele não sabia como morreu: se era natimorto, aborto, se viveu um tempo. Nada. Nem qual a ordem que ocupava quando foi concebida, na sequência de nascimentos dos irmãos. Só sabia que era uma menina porque ouviu a mãe contar.

Nesse mesmo dia meu pai me contou também, muito emocionado, que ele e seus irmãos passavam fome, que sua mãe nada tinha para cozinhar as vezes. Contou que, num domingo, sua mãe o chamou e pediu que fosse à venda comprar macarrão e pedir para o dono da venda marcar que depois ela pagaria.

Os pais do meu avô iriam almoçar lá e minha vó tinha que fazer algo para eles comerem. Meu pai sabia, apesar da pouca idade (devia ter uns 12 anos) que o dono da venda não iria lhe vender mais nada fiado, pois já deviam muito e já fazia muito tempo que não pagavam nada.

Mesmo assim, obedeceu a mãe e foi pela estrada que dava na venda pensando no que fazer. Aí, ele viu a capelinha, na beira da estrada, onde os fiéis que iam rezar, pagar, promessas, ou pedir milagres para Nossa Senhora, deixavam ali sempre dinheiro.

Ele entrou, rezou pedindo perdão, disse para a Santa que um dia voltaria para pagar o que estava pegando e pegou um dinheiro, no valor de, mais ou menos, R$ 100,00. Comprou o macarrão que a mãe pediu e pagou um pouco da dívida para o dono da venda. Me contou chorando essa história e disse que nunca havia tido oportunidade de pagar a promessa, voltar lá e devolver o dinheiro para a Santa.

Nessa ocasião, eu prometi para o meu pai e cumpri dois anos depois: Nós fomos lá e ele pagou a Santa, mesmo sem enxergar, pôde rever seu lugar, sua história e pagar sua dívida. Na foto, a seguir, ele está saindo da capelinha, onde devolveu o dinheiro à Santa.

Minha mãe era a terceira de sete filhos, sendo que também ela teve uma irmã que nasceu e não sobreviveu, mas nunca soube o porquê. Essa minha tia não nascida é a antepenúltima dos filhos da minha avó. Não sei se houve mais não nascidos tanto da parte dos meus avós paternos quanto dos maternos.

Segundo contava minha mãe, meus avós maternos trabalharam muito. Meu avô veio da Bielorrussia e minha avó da Romênia (na família sempre falaram que eram russos, mas esse dado eu descobri, pesquisando).

Eles não tem documentação completa, com nomes e sobrenomes corretos, para saber direito , mas minha mãe contava que minha avó veio  para o Brasil de navio com o seu pai, seu irmão mais velho, sua irmã do meio e a sua mãe, só que antes de chegar ao Brasil, a sua mãe e sua irmã tiveram que desembarcar, pois minha bisavó estava com uma ferida na perna e não podia ficar no navio.

Nunca mais souberam das duas. Minha avó tinha 16 anos e era a caçula. Foram para o Mato Grosso trabalhar na lavoura de batata. Não sei se foi lá que ela e meu avô se conheceram.

Ele começou, não sei quando, a trabalhar abrindo estradas pelo Brasil, minha avó cozinhando para os “camaradas” que com ele trabalhavam. Vida dura, viajando de carroça, à cavalo, acampando em barracas, tendo um filho em cada cidade, e meu avô, que minha mãe não chamava de pai, só de “Barrigudo”, muito ruim com a esposa e os filhos, com os empregados também.

Bebia muito e era chamado de “Gheorge, o louco”. Contam que estuprou, matou e abusava de muitos rapazes que com ele trabalhavam e que maltratava os  seus empregados, sendo muito injusto com todos e minha mãe dizia que quando ele chegava bêbado, alucinado, o que acontecia constantemente, todos tinham que correr para ele não matar.

Por isso, mesmo depois de terem uma casa fixa, a minha avó colocava os filhos para dormir vestidos com roupas a noite, preparados para fugirem pela janela para a casa da vizinha, assim que ele chegasse, pois era muito violento e podia matar todos.

Minha mãe tinha muita raiva do pai e só falava dele ressentimento, reclamando, dizendo que ele se separou da minha avó e roubou dela o que ela tinha de direito, tanto materialmente como moralmente.

Tinha outra família fora do casamento e não dava de comer para seus filhos e esposa, e conseguiu provar na justiça que ela é que era adultera, para conseguir ficar com os bens e nada deixar para ela e os filhos. 

Crescemos, eu e meu irmão, em meio a brigas de minha mãe com a irmã dela mais velha, porque ela defendia o pai e minha mãe não admitia. Nossos pais também brigavam muito porque meu pai bebia e minha mãe xingava o tempo todo.

Aprendi com eles dois a fumar e com meu pai a beber. Lembro que quando era de colo ainda, meu pai, muito orgulhoso, me levava num bar onde bebia com os amigos e mandava bater caracu com leite, ovo e açúcar e me dava para beber. Acho que fiquei dependente a partir dali; para ser “a menina bonitinha que bebia com o papai”.

Agora eu sei, pai querido! Agora eu vejo! Não preciso mais!

Tanto na minha família paterna quanto materna os pais não são presentes, mesmo que estejam lá fisicamente. Meu avô paterno nem foi citado pelo meu pai quando me falou o que relatei e durante muitos anos, nem soube que ele existia. Quando o conheci, vi como era odioso e nojento aquele espanhol!

Ele não respeitava minha mãe e a outra nora, a esposa do meu tio, irmão mais novo do meu pai. Nem as netas ele respeitava!  

Minha avó paterna era uma índia bugre doce e meiga com a gente, mas dura e muito brava com ele; hoje sei porque:  ele realmente era muito mal. Estou trabalhando meus avôs dentro de mim e está bem difícil, principalmente com o paterno.

O materno tenho compaixão dele. Ele morreu com um câncer no cérebro, gritando o nome da minha avó, gritando de dor! É terrível! Que descanse em paz! Nosso sistema tem muito de adultos disfuncionais e os casais nunca são completos.

Nós, os descendentes, somos todos doentes, emocionalmente e fisicamente. Eu cresci me achando culpada de tanta coisa, não merecedora de amor de felicidade e buscando me isolar, pois parece que atrapalho as pessoas. Tenho sempre a sensação de abandono, rejeição e incompreensão.

Mesmo com 35 anos de psicoterapia em várias abordagens, a luta continua. Nessa jornada que empreendi pela sistêmica agora, desde de junho, com a amada Olinda Guedes, busco forças para curar essas feridas.

Por exemplo, estou no segundo relacionamento, mas nenhum dos dois, apesar de terem longa duração, foram felizes e plenos para mim e esse assunto me cansa e não tenho vontade de falar dele.

Tenho dificuldade com o feminino, que sempre foi doído, doido e doente em mim. Queria tanto ter tido filhos! Quis muito dois casais de gêmeos! Pensava nisso desde criança. Não queria casar, queria ter meus filhos.

Não consegui ser mãe natural e nem tive coragem de adotar. Sempre tive muita hemorragia e dores terríveis enquanto menstruei. Tive endometriose, salpinginte, tuberculose tubária, trompa interrompida, etc. O aparelho reprodutivo foi extremamente afetado. 

A parte sexual nunca me foi prazerosa, não me realizo com isso e já abri mão. Homem companheiro e leal na minha cabeça é mito. O meu companheiro com quem vivo maritalmente a mais de trinta anos é um grande amigo, mas não é meu esposo, no verdadeiro sentido da palavra, e tenho preguiça de mexer nisso.

O meu primeiro marido fez o que eu busquei: me traiu com outra, com quem tem uma família e conseguiu ter filhos.

Sei que se trata de lealdade ao meu sistema essa minha crença que ser feliz com um homem não é para mim, mas aos 62 anos cansei de lutar com isso. Ser adulta funcional agora é o meu único propósito, para não prosseguir nesse padrão familiar

O principal pilar, ao meu ver pelo que aprendi nesse módulo, para um casal ser realmente casal, no sentido pleno da palavra, não é natural no meu sistema: O amor do coração. Não temos também o Amor de Graça da mãe.

Tudo é conseguido no esforço, na sublimação, no sacrifício. Tudo tem que ser sofrido. O que eu já fiz e faço para ser aceita! Nunca é suficiente!

Uma sequência de movimentos de amores interrompidos parece ser preponderante entre nós, de geração em geração, e, através desse aprendizado com a Mestra Olinda Guedes, estou tentando curá-los!

Sem isso, dificilmente encontrarei prazer nessa vida que sei que pode ser feliz, próspera e saudável.

Preciso de milagres e estou aprendendo a agir para obtê-los.

 

Espiritizar já!


Denunciar publicação
    010

    Indicados para você


    Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica

    Verifique as políticas de Privacidade e Termos de uso

    A Squid é uma empresa LWSA.
    Todos os direitos reservados.