Foi e tem sido assim,
No início,
com 12 anos fui trabalhar no supermercado que abriu no bairro em que vivia com meus pais e irmão.
Minha mãe disse quando lhe comuniquei que iria pedir emprego no mercado: Imagine se alguém vai contratar você. E se contratar, do jeito que é estabanada, distraída e não serve para nada, não fica lá nem 2 minutos.
Pois sim!
Sou teimosa. Sempre fui.
Era 1970. A seleção brasileira de futebol estava jogando um dos jogos da Copa Mundial, a única pela qual me interessei de verdade.
Enquanto o Jairzinho, o furacão, defendia, atacava, minha mãe, sem saber, pronunciava as palavras praguejentas que me impulsionaram e me desanimaram, ao mesmo tempo, pela vida toda.
Prosseguir, tendo como música de fundo o que ouvia no hino tocado na época que dizia:
Pra Frente Brasil (Copa de 1970)
"Noventa milhões em ação
Pra frente, Brasil
Do meu coração
Todos juntos vamos
Pra frente, Brasil
Salve a Seleção!
De repente é aquela corrente pra frente
Parece que todo o Brasil deu a mão
Todos ligados na mesma emoção
Tudo é um só coração!
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a Seleção!
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Brasil
Salve a Seleção!"
Composição: Miguel Gustavo
E não ouvi minha mãe.
Eu era obediente, mas revoltada.
Sempre fui dúbia, bipolar, um paradoxo ambulante. Estranha. Anormal. Piegas. Esquisita.
Sempre fui e sou! (Rindo aqui. Agora posso).
Trabalhei por cinco anos ali. Opa! Contradizendo minha mãe, autoridade mor!
Minha primeira função foi a que mais me ensinou nessa vida. Fui guarda-volumes.
Tinha tanto orgulho! Guardava os preciosos pertencentes de cada freguês: suas sacolas, que levariam alimentos para suas famílias; presentes, que compraram para os seus amados, coisas, objetos para seu dia a dia, sua proteção, etc
Aprendi a valorizar o que era do outro como se fosse um tesouro. E era.
Os japoneses, donos do mercado, meus patrões, me ensinaram a honrar e valorizar, validar, cada ação, cada gesto, cada atitude de cada pessoa que ali entrava.
Ali, eu aprendi a respeitar e conviver com seres humanos, diferentes, únicos e, ao mesmo tempo, tão iguais.
Observava e ouvia. Comecei a ser uma ouvinte, uma espectadora e acompanhante, características que me são fundamentais na vida até hoje.
Depois, servi a várias outras empresas como auxiliar de escritório e secretária, sempre servindo.
Aprendi a oferecer e prestar a ajuda necessária.
Exagero, às vezes. Mas agora sou consciente disso e me redimo.
Estou tratando esse servir, pois preciso seguir as Ordens da Ajuda que conheci a pouco tempo.
Sei agora que comecei essa missão de servir, da qual já pensei em desistir tantas vezes por me equivocar demais, porque estava sempre buscando provar a minha mãe que eu sirvo.
Sim. Eu sirvo.
Eu já fui também só psicóloga. Psicóloga junguiana, com orgulho.
Agora, voltei para a minha casa aqui na Escola Real e tenho muito mais orgulho de ser uma pessoa que se importa e, porque se importa, serve.
Hoje eu sou uma terapeuta sistêmica by Olinda Guedes.