"A ESPERANÇA NASCE EM CASA, PASSA PELA ESCOLA E SE EXPRESSA NO MUNDO DE TRABALHO".
Cresci dentro de um lar disfuncional, onde a orfandade de "pai" foi a premissa constante. Pai ausente, machista, violento, isso tudo associado a uma grande carência material.
Com cinco anos comecei a trabalhar de "pagem" por um prato de comida. Eu era uma criança franzina, frágil, magra e tinha que carregar no colo uma criança que era o dobro de mim.
Meu corpo doía, reclamava, mas a fome gritava e eu me esforçava o máximo. A criança me adorava. As vezes tinha que ficar com ela até as vinte e uma horas, quando ela adormecia. Chegava em casa cansada, um cansaço que humilhava a alma mais que o corpo. Esta situação foi até os meus oito anos, quando entrei para o grupo escolar. Um ano atrasada devido a uma cirurgia de amígdalas.
No grupo sentia uma grande insegurança, um completo desamparo e um medo de não aprender, de repetir o ano, o que nunca aconteceu, mas foi uma ameaça silenciosa constante.
Entrei no Ginasial e na oitava série comecei a trabalhar de secretária de um advogado recém formado, por meio horário, mas quase não havia remuneração.
Fiz o curso de datilografia, muito importante na época. Fui dispensada e me tornei manicure/pedicure. Fiz concurso para secretaria da escola PREMEM, um convênio com o governo americano, passei e trabalhei por cinco anos, até quando este convênio terminou e fomos encampados pelo Estado.
Comecei a fazer faculdade, concursei no Estado, sendo aprovada duas vezes em primeiro lugar, o que me gabaritava competência. Lecionei durante trinta e oito anos. Nunca senti minha alma plena, transbordando. Fui dedicada, empenhada, mas por dentro um vazio que não se completava
"A ESPERANÇA NASCE EM CASA...", mas quando ela adoece e se perde, dói. Não adianta dizer não sofra, não chore, porque essa perda nos paralisa.
Apesar das minhas fragilidades, avanço. Meu coração se transforma a cada descoberta. Olhar e entender a orfandade disfuncional, me sobressaltei, me assustei até, mas me entendi e agora preciso me curar e reinventar, a vida exige.
A vulnerabilidade e abandono de uma criança a acompanha sempre. Sei que é preciso tempo para que ela se fortaleça, se complete e transborde. Cada perda tem uma hora de acabar, chegou minha hora, mesmo que tarde, através deste curso.
GRATIDÃO, OLINDA GUEDES.
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" Há três tipos de orfandade.
- Órfãos de pais mortos: filhos abusados, vivendo de migalhas.
- Órfãos de pais vivos: filhos carentes, revoltados.
- Órfãos de pais ausentes: filhos com atitudes inconsequentes."
Olinda Guedes