Um novo ano começou e nada mais oportuno do que falarmos sobre propósito, o quarto componente da felicidade, segundo o conceito de Martin Seligman. Mas afinal, o que é propósito? Será que ele realmente é importante? De que forma ter um propósito bem definido pode influenciar positivamente nossas vidas e, de forma geral, nos tornar pessoas mais felizes? Pare pra pensar: alguma vez você experimentou um momento em que se sentiu realmente conectado, como se você estivesse realizando uma tarefa feita pra você? Já saiu de algum dia no trabalho pensando que se todos os meus dias fossem assim, você trabalharia até de graça? Nietzsche costumava dizer que quando existe um por quê, todo como se torna possível, numa clara alusão à importância de uma vida com propósito. Para Simon Sinek, todos nós estamos biologicamente conectados ao nosso por que, à nossa razão mesmo de existir. O problema é quando não sabemos colocar em palavras qual é esse por que, o que cria uma sensação de vazio, se falta de sentido. Além dos benefícios emocionais e psicológicos, ter um forte senso de propósito tem outros benefícios comprovados:
1- Longevidade: Um estudo realizado em 2009 entre mais de 73.000 homens e mulheres japoneses descobriu que aqueles que tinham forte conexão com seu senso de propósito (chamado de ikigai) tendiam a viver mais do que os demais, a mesma conclusão obtida por Viktor Frankl durante sua experiência nos campos de concentração nazistas.
Mas não é só isso: Dan Buettner, em seu estudo sobre “Zonas Azuis” (comunidades do mundo em que as pessoas são mais propensas a viver mais de 100 anos), identificou que uma das características que a maioria dos habitantes destas comunidades compartilham é um forte senso de propósito.
2- Maior imunidade contra doenças cardíacas: Outro estudo, em 2008, descobriu que um menor nível de propósito em homens japoneses estava associado à morte e doenças cardiovasculares. Por mais que a evidência possa parecer vaga, imagine a diferença entre as vidas de alguém que navega diariamente sem rumo, trabalhando para pagar as contas, e a de alguém que sabe para onde está indo e que acorda todo dia para construir mais um pouquinho do seu sonho. Será que isso muda a qualidade de vida desses indivíduos de forma a afetar a sua saúde cardíaca?
3- Prevenção contra Alzheimer: Estudando milhares de idosos, a Dra. Patricia Boyle, neuropsicóloga do Centro de Doença de Alzheimer de Rush, em Chicago, descobriu que as pessoas com baixo senso de propósito eram 2,4 vezes mais propensas a contrair a doença de Alzheimer do que aquelas com um propósito forte. Também concluiu que as primeiras tinham muito menos risco de redução de capacidade cognitiva ou motora ao longo da vida.
4- Maior controle sobre experiências difíceis ou dolorosas: The Journal of Pain descobriu em longo estudo com milhares de mulheres, que aquelas com maior senso de propósito eram mais capazes de suportar o calor e os estímulos frios aplicados à sua pele, além de reagir mais positivamente às vicissitudes da vida. Será mesmo que alguém que sabe para onde está indo lida melhor com erros e fracassos pelo caminho, em comparação com quem não sabe bem para onde vai, nem por que?
5- Relacionamentos mais positivos: Um estudo em 2009 avaliou mais de 1.000 adultos e descobriu que aqueles com senso de propósito mais alto dedicavam mais tempo e qualidade aos seus entes queridos e comunidades. Em linhas gerais, pessoas com maior senso de propósito tendem a estar mais envolvidas com suas famílias, colegas e vizinhos, desfrutando de relacionamentos mais satisfatórios como resultado.
6- Mais Flow: Se você lembrou, no início desse ensaio, de momentos onde você estava completamente engajado em alguma atividade, provavelmente você já percebeu que você estava não apenas realizando algo alinhado com seu senso de propósito, mas que também o colocou no estado de flow. Ou seja, viver uma vida de propósito aumenta as chances de viver mais em flow, outro importante componente da felicidade.
7- Efeitos da aposentadoria: De acordo com Dan Buettner, os dois momentos mais vulneráveis na vida de uma pessoa são os primeiros doze meses após o nascimento e o ano após a aposentadoria. Você provavelmente já ouviu histórias sobre homens perfeitamente saudáveis que morreram pouco depois de se aposentarem de uma carreira vitalícia. Alguns pesquisadores suspeitam que, para esses homens, o fim de sua carreira também significou o fim de seu propósito na vida, o que afetou sua saúde e bem-estar.Um estudo dos aposentados da Shell Oil descobriu que os homens e as mulheres que se aposentaram cedo (55 anos) tiveram maior probabilidade de morrer antes do que aqueles que se aposentaram aos 65 anos. Um estudo semelhante com quase 17 mil gregos saudáveis mostrou que o risco de morte aumentou 51% após a aposentadoria.
8- Mais resiliência: Uma das características comuns entre as pessoas que vivem com propósito é que eles são capazes de encontrar significado nas coisas até mesmo nas coisas simples. Andrew Zolli, autor do livro Resiliência, descreve essas pessoas como capazes de ”revalorizar cognitivamente as situações e regular suas emoções, transformando os limões proverbiais da vida em limonada”.
9- A extensa pesquisa de Ed Diener, autor consagrado de Psicologia Positiva, comprovou que as pessoas
com um forte senso de propósito são mais capazes de lidar com os altos e baixos da vida. Ter um objetivo claro oferece uma espécie de amortecedor psicológico contra os obstáculos da vida. Nas palavras de Tal Ben- Shahar, “coisas ruins acontecem com pessoas boas, mas algumas pessoas conseguem extrair sempre o melhor daquilo que lhes acontece, transformando a dor em aprendizado e crescimento”.Nesse mesmo sentido, Barbara Fredrickson afirma que a resiliência advinda do senso de propósito pode levar a uma melhor saúde cardiovascular, menos preocupação e maior felicidade ao longo do tempo.
No próximo texto vou apresentar alguns modelos para identificação do nosso propósito de vida.
E-book- O que é Felicidade? Uma breve introdução a Psicologia Positiva