Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

A medida da felicidade

A medida da felicidade
Henrique Bueno
out. 2 - 9 min de leitura
020

 

A primeira barreira encontrada pela Psicologia Positiva foi a da definição do termo felicidade. Isso porquê o método científico depende da definição clara do objeto do seu estudo, sem o que não seria possível qualquer tipo de medição ou conhecimento empírico concreto. Da mesma forma que na administração "o que não pode ser medido não pode ser gerenciado", na ciência em geral "o que não pode ser medido não pode ser, cientificamente, estudado ou conhecido".

Ainda existe bastante discussão acerca desse assunto, e a definição com certeza ainda vai sofrer ajustes ao longo do tempo, na medida em que novas pesquisas vão sendo divulgadas. Importante registrar ainda que o objeto de estudo da Psicologia Positiva não se restringe à felicidade, mas a virtudes, características e emoções que atuam positivamente em indivíduos, grupos e comunidades, como coragem, persistência, inteligência emocional, resiliência, etc. Em linhas gerais, entretanto, todos concordam que felicidade está intrinsicamente relacionada com "bem-estar subjetivo”. Ótimo, temos uma definição! Mas o que é e como medir bem-estar subjetivo?

Metodologia de estudo

A metodologia mais usada pela Psicologia Positiva para estudar a felicidade (e o comportamento humano, em linhas gerais) é a pesquisa correlacional, velha aliada, inclusive, da Psicologia tradicional. Seu objetivo é determinar se existe alguma correlação entre duas ou mais variáveis e, se positivo, em que nível.

1- Observando e registrando variáveis em um ambiente natural, sem qualquer interferência. Por este método, pesquisadores observam, por exemplo, o índice de presença de alunos em escolas ao longo do tempo e avaliam se há correlação entre frequência e boas notas. Esse método costuma ser longo e caro, mas existem incontáveis experimentos que já vem sendo executados há décadas, alguns deles servindo inclusive de base para a própria Psicologia Positiva.

2- Realizando pesquisas, através das quais grupos aleatórios respondem a questionários pré-definidos. Pesquisas de satisfação e de clima organizacional são exemplos simples desse método, que é utilizado inclusive para avaliar o “bem estar subjetivo” de indivíduos em diferentes situações. Esse método tem crescido exponencialmente em utilização e precisão com a internet, que permite reunir e classificar universos imensos de informações individuais em todos os cantos do mundo.

3- Catalogando dados históricos. Cientistas comumente analisam fenômenos com base em dados já coletados no passado, avaliando, por exemplo, como crises econômicas afetam a criminalidade.

Além dos estudos correlacionais, experimentos de última geração, comumente realizados em parceria com a biologia, genética, neurociência e outras disciplinas, oferecem evidências ainda mais sólidas para a formação das teorias da Psicologia Positiva.

Componentes da Felicidade

Uma das formas encontradas pelos estudiosos para definir com mais clareza, e, assim, medir com mais segurança a felicidade, é a identificação dos componentes que a constituem. A análise mais completa desses componentes foi desenvolvida pelo próprio Martin Seligman, fundador da Psicologia Positiva, e publicada em seu livro “Flourish”. Segundo ele existem 5 componentes mensuráveis determinantes da felicidade: emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, sentido e propósito e senso de realização. Em inglês ele utiliza o acrônimo PREMA (positive emotions, engagement, relationships, meaning e achievement).

Emoções Positivas

Esse é o elemento mais óbvio determinante da felicidade. Experimentar emoções positivas incrementa consideravelmente nossa sensação de bem-estar subjetivo. Trata-se, entretanto, de condição passageira e geralmente associada a fenômenos ou acontecimentos externos, como a notícia de uma promoção, o nascimento de um filho, o recebimento de algum presente ou a participação em algum jogo com amigos. Existem atualmente várias intervenções com o objetivo de aumentar a quantidade e qualidade das emoções positivas percebidas ao longo da vida, principalmente através do desenvolvimento de uma visão otimista em relação ao passado, presente e futuro.

Essa visão dirige nosso foco para o que há de bom ao nosso redor (como falamos no ensaio anterior), sendo benéfica não apenas para nosso bem-estar subjetivo como também para nossos relacionamentos, trabalho e até saúde física. Várias evidências apontam o pessimismo, inclusive, como fator relacionado a ansiedade, depressão, problemas cardiovasculares, dentre outros.

Engajamento

Também chamado de “flow” ou fluidez, após os estudos publicados pelo cientista Mihaly Csikszentmihalyi (se você conseguir falar esse nome já pode ficar mais feliz!). Trata-se daqueles momentos onde nos encontramos tão concentrados e engajados na atividade que estamos desempenhando que perdemos inclusive a
noção da passagem do próprio tempo. Quem nunca terminou uma atividade altamente engajadora e, ao perguntar pelas horas, não pensou: “mas já”?

Geralmente esse estado acontece quando estamos desempenhando uma atividade que gostamos e que fazemos bem feito, que não seja simples demais a ponto de nos trazer monotonia, nem tão complexa a ponto de nos gerar ansiedade. Em outras palavras, quando a corda está estivada exatamente no nível que nos desafie dentro do que temos de melhor.

Encontrar mais momento de flow ao longo do dia incrementa consideravelmente nossa sensação de bem-estar, além de ser fundamental para o desenvolvimento de nossa criatividade e nosso desenvolvimento intelectual e emocional.

Relacionamentos

Quem assistiu o belíssimo filme “Into the Wild”, baseado na vida real e trágica de Christopher McCandless, vai lembrar da frase que conclui sua experiência de isolamento: “Happiness is only real, when shared.” “A felicidade só é real quando é dividia”! De fato, as conexões e interações sociais são fundamentais para nossa experiência de felicidade. Provavelmente é inclusive o fator que mais importa.

Somos um animal racional. E relacional! Buscamos incessantemente, através das interações sociais, amor, intimidade, respeito, reconhecimento. A aptidão para
construir e manter relacionamentos positivos é tão fundamental que deveria ser conteúdo obrigatório desde o ensino básico.

Mitch Printein, professor PhD de Psicologia e Neurociência, aponta estudos que demonstram que os centros do cérebro associados à dor são ativados quando nos sentimos em risco de isolamento. Isso se aplica a questões corriqueiras, como a sensação de exclusão de grupos de amigos ou de trabalho. A explicação evolutiva desse fato é a de que são os relacionamentos que nos dão suporte em momentos de dificuldade. No passado, podem ter sido a diferença que garantiu a sobrevivência da humanidade.

Sentido e Propósito

Victor Frankl foi vítima dos campos de concentração nazistas, onde também perdeu o filho, a esposa e a mãe. Durante sua passagem por Auschwitz, Frankl separou três grupos de prisioneiros: o primeiro tinha certeza de que alguém chegaria e acabaria com a guerra, salvando a todos; o segundo acreditava que tudo estava acabado, que não havia mais um motivo para viver; o terceiro sabia que a espera ia ser longa e a dor por vezes insuportável, mas acreditava que havia uma razão para continuar vivo, um sentido.

Em sua observação, constatou que o primeiro grupo, dotado de uma visão polianica da realidade e dependente de um “salvador” era o primeiro a sucumbir; o segundo grupo sucumbia em seguida, incapaz de conceber uma visão de futuro positiva, um sentido; o terceiro grupo era dotado de maiores chances de sobreviver ao tormento. Parte do terceiro grupo, Frankl encontrou nos seus estudos o sentido para continuar, tendo fundado, após o fim da guerra, a Escola da Logoterapia, ou terapia do sentido.

Encontrar um sentido, um propósito para o que fazemos, é fundamental para nossa experiência de bem-estar subjetivo ou felicidade. Nas palavras de Nietzsche: “Quando há um porquê, todo como se torna possível.”

Senso de Realização

Quando encontramos um sentido maior naquilo que fazemos e fluidez em nossas atividades, começamos a desenvolver um maior senso de realização. Definir metas claras, agir em direção a elas sem depender de um “salvador externo” e ter uma visão positiva e realista do futuro são passos fundamentais na busca de maior senso de realização. Cada nova conquista catalisa a energia que nos direciona a buscar novas conquistas e mais realização, criando um espiral positivo de mudança e felicidade em nossas vidas.

Rechear de PREMA sua vida é uma bela missão. Nos capítulos seguintes vamos explorar com mais detalhes que tipo de intervenções podem ser utilizadas para
cada um dos componentes de uma vida mais feliz.


Autor: Henrique Bueno

E-book:  O que é Felicidade?

Uma breve introdução a Psicologia Positiva.



 


Denunciar publicação
    020

    Indicados para você


    Saber Sistêmico - Comunidade da Constelação Familiar Sistêmica

    Verifique as políticas de Privacidade e Termos de uso

    A Squid é uma empresa LWSA.
    Todos os direitos reservados.